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Governo agora quer troca-troca no Senado
A montagem da base de apoio ao governo Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara dos Deputados foi propiciada por meio de um expediente que o governo pretende repetir agora no Senado: o esvaziamento da oposição devido à atração de parlamentares para legendas aliadas.

Folha de S. Paulo A montagem da base de apoio ao governo Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara dos Deputados foi propiciada por meio de um expediente que o governo pretende repetir agora no Senado: o esvaziamento da oposição devido à atração de parlamentares para legendas aliadas. Sem segurança para aprovar projetos considerados prioritários no Senado, o governo articula levar pelo menos dez oposicionistas para a base aliada, o que repetiria as manobras que praticamente dobraram as bancadas dos governistas PTB e PL na Câmara, onde o Palácio do Planalto dispõe de maioria tranqüila. Após as 141 trocas de partido que os deputados patrocinaram entre janeiro de 2003 e o início do mês passado, PL e PTB incharam. Os dois juntos elegeram 52 deputados, mas contam hoje com 98. Um dado simbólico da movimentação é o fato de que os dois atuais líderes dessas bancadas são egressos dos oposicionistas PFL e PSDB, que minguaram de 154 deputados eleitos para 111. Aliados ao PP, PL e PTB foram os principais responsáveis pelo travamento da reforma política na Câmara, que, para seus defensores -entre eles o PT-, contém dispositivos que inibiriam a infidelidade partidária. O partido de Lula não abrigou egressos da oposição. "É lógico que o governo atrai. Há deputados que, para suas questões locais, têm que estar ao lado do governo", disse o líder do PL, Sandro Mabel (GO), que abandonou o PFL em janeiro do ano passado, de acordo com o registro da Câmara. Ainda de acordo com o líder do PL, o partido também seria um atrativo "por ser tranqüilo, não ter facções e por ter o Valdemar Costa Neto [presidente da legenda] e o vice-presidente [da República], José Alencar". Os maiores partidos governistas reúnem hoje 372 deputados, 56 a mais do que elegeram, um crescimento de 18%. Já os partidos que hoje estão na oposição elegeram 175 deputados, mas contam hoje com apenas 122, uma diminuição de 30%. Além do troca-troca, contribuiu para a montagem da base a adesão do PMDB ao governo já durante a gestão Lula. "Muito mais importante do que o fator governo é o fator local. Noventa por cento das mudanças foram motivadas por assuntos locais. Tem uma frase que gosto muito, do Shakespeare: "A vida é um assunto local'", disse o deputado José Múcio (PE), líder da bancada do PTB, que até maio do ano passado compunha os quadros tucanos. Ele afirmou ter abandonado o PSDB devido à recusa do partido de abrigar correligionários seus de Pernambuco. Listas fechadas O relator da reforma política, Ronaldo Caiado (PFL-GO), diz que apenas um dos pontos da proposta -que foi aprovada em comissão especial, mas não tem previsão de votação em plenário- seria suficiente para colocar um fim na infidelidade partidária. Ele se refere às chamadas listas fechadas, que acabariam com as candidaturas individuais -ou seja, o eleitor não votaria em um ou em outro, mas numa lista, definida em convenções partidárias. Caiado argumenta que o deputado que mudar de legenda entraria no fim da lista na nova legenda, o que dificultaria sua reeleição. "A lista, sozinha, acaba com o troca-troca, que é uma excrescência, uma anomalia, não existe em nenhum Parlamento do mundo." PTB e PL se dizem contra a medida afirmando, entre outras coisas, que ela fortaleceria o "caciquismo" nas legendas. "As listas criariam cartéis dentro dos partidos", afirmou Múcio. (RANIER BRAGON)
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