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O Judiciário e a Imprensa - Avanços e desafios - por Edileuson Almeida
"Erros médicos, em geral, são fatais. Erros de engenharia provocam tragédias. Erros jornalísticos produzem vítimas silenciosas, dores de alma". (jornalista Luís Costa Pinto)

"Erros médicos, em geral, são fatais. Erros de engenharia provocam tragédias. Erros jornalísticos produzem vítimas silenciosas, dores de alma". (jornalista Luís Costa Pinto) Boa Vista - O tema relacionamento Imprensa/Judiciário, pelo menos desde o início da década de 1990, tem ocupado boas horas de discussão, inclusive em eventos desta natureza [1º Seminário de Direito Eleitoral e Imprensa], que torço para que sejam constantes. Há muito ruído na comunicação entre a Justiça e a sociedade. E, por causa desse ruído, muita incompreensão. Este esforço de empreender um relacionamento de boa convivência com a sociedade, por mediação da imprensa, deve perpassa a imagem de lento, enfadonho e prolixo que o Judiciário tem acumulado ao longo de sua existência, mais precisamente desde a proclamação da república. Boa parte disso pode ser creditado ao ruído de comunicação, que causa as incompreensões que justificam iniciativas como esta que estamos agora presenciando, e que irão enriquecer nossa competência como jornalistas. É recorrente nas redações que a cobertura do judiciário é vista como chata e de baixa audiência. O cidadão não toma conhecimento se a justiça funciona ou não funciona. Felizmente ou infelizmente, isso depende do eixo de visão, é da imprensa o papel de levar a informação à sociedade. A verdade é que não seria possível cotidianamente toda a população roraimense ir ao palácio do governo, ao legislativo ou ao judiciário fiscalizar ou acompanhar o que fazem os seus representantes. Porém, não se deve esperar do judiciário declarações políticas ou polêmicas, diferentemente dos demais poderes onde este comportamento tem se tornado uma práxis. O que devemos esperar do Judiciário é celeridade, funcionabilidade e eficiência em responder ao chamamento da sociedade. Como conseqüência, [o judiciário] necessita construir uma imagem que reflita esse comportamento e, ai, a comunicação se torna um instrumento indispensável. Dentre as ferramentas disponíveis, a imprensa, dada a sua amplitude de atuação e alcance, apresenta-se comum eficaz mediadora dessa relação. Mas o que falta para que isso aconteça, um melhor relacionamento imprensa e judiciário? É preciso que haja mútua confiança. Observa-se que por mais gentil que seja o tratamento entre um membro do judiciário e outro da imprensa, há sempre o temor, do primeiro de ter sido mal interpretado e, do segundo, de ter sido enganado. É necessário que a imprensa faça um esforço para que possa melhor entender o cotidiano do judiciário, pois a matéria jurídica não é uma área fácil. É necessário também que o Judiciário amplie seus esforços para ser fazer compreender, evitando "esconder-se" sob o manto dos jargões e tecnicismos do mundo jurídico e garanta transparência absoluta nessa relação com a imprensa, decodificando esses paradigmas que prejudicam essa aproximação e ainda prejudicam a sociedade com informações gravemente deformadas. O Judiciário continua um desconhecido no meio social. Não só quando o assunto é seu funcionamento mais o que faz em nome do interesse social. Daí a indispensável necessidade de interação entre Judiciário e Imprensa, onde cada um deve conhecer e compreender a forma e o ritmo de trabalho do outro. A existência da justiça, assim como a do jornalismo, não permite que nenhuma das partes se desconheça. Infelizmente a cultura da imprensa brasileira, e por que não dizer do resto do mundo, ensina que matéria quente, que dá manchete e ganha destaque na televisão, no rádio e no jornal, é só aquela que gera conflito, briga e escândalo. De um lado, o Judiciário leva tempo no cumprimento de suas obrigações, qual seja, confrontar a apreensão (executada pela polícia ou sociedade em geral) e o raciocínio (constituição, códigos, leis, decretos, MP, etc.), para julgar e sentenciar. De outro lado, a imprensa executa as três operações, sozinha e numa velocidade assustadora, sentenciado na maioria das vezes de forma severa e letal. Collor foi condenado pela a mídia e inocentado pela justiça. Nessa forma conflitante de entendimento só há um perdedor: o cidadão, receptor da notícia equivocada que aumenta seu descredito no principal ponto de sustentação da democracia, a justiça. Não é papel da mídia exaltar, com notinhas agradáveis, mais apresentar os fatos de acordo com o interesse da sociedade. É preciso reconhecer que a sociedade não anda feliz com a agilidade da justiça e desconfiada com a postura da imprensa. É urgente e imperioso um acordo entre os jornalistas e o poder, mas sem que a sociedade fique de lado, pois se trata de nosso principal cliente, tanto da justiça quanto do jornalismo. A imprensa jamais deve perder seu direito de crítica, a responsabilidade de identificar os erros do Judiciário, mas o jornalista precisa ter respeito pelos fatos, sem esquecer que todos nós somos falíveis. Não é segredo que equívocos ocorrem tanto por parte da imprensa quanto da Justiça. Nós, jornalistas, devemos perder a prepotência de reconhecer um erro e a humildade de corrigi-lo. Às vezes, por dispor de um microfone, máquina ou teclado nos sentimos donos da verdade, infelizmente, isso não é tão raro assim. Experimente pergunta ao povo sobre o conceito da imprensa e irá ouvir poucas e boas. A Justiça também precisa corrigir sua rota para quebrar essa imagem negativa que persegue essa instituição tão necessária para a manutenção da vida em grupo. Deve começar por mudanças no relacionamento com a imprensa, buscando a aproximação e não o distanciamento, sem interferi na isenção do juiz, mas mostrando para a sociedade a sua face humana. Ampliar o esforço para eliminar o câncer de qualquer instituição pública: a burocracia. "Uma imagem negativa se alimenta do silêncio".
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