00:00:00
Lição para a Imprensa - Estréia Fahrenheit 11 de setembro
"Todos nós aqui gostamos de não-ficção, mas vivemos em tempos de ficção, com resultados eleitorais fictícios e um presidente fictício (...) Estão nos enviando à guerra por razões fictícias! Que vergonha senhor Bush, que vergonha!". O discurso que Michael Moore fez ao receber o Oscar de Melhor Documentário por Tiros em Columbine, em 2003, dá uma boa idéia do que se tem pela frente no polêmico e revelador Fahrenheit 11 de Setembro.

"Todos nós aqui gostamos de não-ficção, mas vivemos em tempos de ficção, com resultados eleitorais fictícios e um presidente fictício (...) Estão nos enviando à guerra por razões fictícias! Que vergonha senhor Bush, que vergonha!". O discurso que Michael Moore fez ao receber o Oscar de Melhor Documentário por Tiros em Columbine, em 2003, dá uma boa idéia do que se tem pela frente no polêmico e revelador Fahrenheit 11 de Setembro. De peito aberto, Moore não faz a menor questão de pegar leve nas críticas e coloca tanto a gestão quanto a pessoa de George W. Bush na berlinda. Mais do que isso, o diretor faz uma "autópsia" dos últimos quatro anos de Bush à frente da presidência dos Estados Unidos. A começar pela fraudulenta vitória nas urnas contra o, então, candidato Al Gore nas últimas eleições. Moore prova por A+B que o presidente jogou sujo. Ele disseca toda a campanha eleitoral de Bush, o processo de apuração e a exclusão de muitos eleitores por motivos questionáveis - por que não dizer absurdos? No ataque às torres gêmeas do World Trade Center (WTC), o diretor mostra uma cena, no mínimo, inquietante. Com muito cinismo e ironia, a câmera fecha o ângulo no rosto do presidente quando ele recebe a notícia de que o país está sendo atacado. A ocasião se deu quando ele visitava uma escola primária. Durante alguns minutos, o todo-poderoso fica com o olhar distante sem saber o que fazer. Enquanto isso, a primeira torre ruía e Moore, que de bobo não tem nada, não perde a oportunidade e simula os pensamentos de Bush - com uma boa dose de sarcasmo. Do ataque ao WTC ele passa à invasão do Afeganistão e Iraque. Por meio de depoimentos de pessoas do alto escalão do governo, o diretor procura levar o espectador a acreditar - e isso ele sabe fazer com eficiência - que tudo não passou de interesses econômicos e políticos. Mas cadê a novidade? Ele coloca na tela várias evidências. Em um dos depoimentos, o entrevistado diz que o presidente não quis nem saber quem foi o responsável pelo ataque terrorista, apenas mandou: "Iraque! Foi o Iraque! Ache-os e traga-os para mim", revela. Além disso, Michael Moore mostra um punhado de situações, documentos, evidências e entrevistas que indica os interesses econômicos na reconstrução do Iraque. As empresas contratadas para levantar o país depois da guerra são comandadas por parceiros políticos e amigos de longa data. Fahrenheit 11 de Setembro vem para provocar, inquietar e refletir. Um documentário dirigido por alguém que teve peito para enfrentar o "senhor da guerra". Alguém que consegue arrancar lirismo mórbido de um conflito, onde a maioria dos soldados conta os segundos para que tudo aquilo acabe. Alguém que sabe, por levantar a bandeira e vestir a camisa, ser chato o suficiente para provocar medo nos congressistas e aliados de Bush. O presidente arranjou uma pedreira no sapato e o candidato às próximas eleições norte-americanas, John Kerry, um grande cabo eleitoral. Moore, além de um importante formador de opinião, é um excelente profissional. A edição e a condução do roteiro de Fahrenheit não deixam dúvidas. Pelo lado crítico, Moore só está devolvendo na mesma moeda o que Bush fez aos Estados Unidos e ao mundo. Ele prova isso nos segundos finais da fita, quando mostra o presidente fazendo mais um dos seus discursos. "Se alguém me enganar... azar o dele...azar o dele", avisa Bush, ao que Moore emenda: Comigo também senhor Bush... comigo também. Fonte: Imagem extraída do site 'http://www.belfastdec.org/globalissues/bush.jpg'
COMENTÁRIOS