- 25 de novembro de 2024
Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) identificou a presença de mercúrio (Hg) em mais de 290 indígenas Yanomami, residentes do Alto Rio Mucajaí, área de Terra Indígena. A pesquisa foi realizada em nove aldeias do subgrupo Ninam, com homens, mulheres, crianças, adultos e idosos.
O estudo Impacto do mercúrio em áreas protegidas e povos da floresta na Amazônia: uma abordagem integrada saúde-ambiente foi conduzido pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). Também houve parceria com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e apoio do Instituto Socioambiental (ISA).
A pesquisa foi feita com a amostra de cabelo dos indígenas da região em outubro de 2022. Os maiores níveis de exposição foram detectados na população que vive nas aldeias mais próximas aos garimpos ilegais, como em Uxiú, Ilha e Caju. Os indígenas dessas três aldeias registraram níveis de metal pesado acima de 5,0 µg/g (micrograma).
Em média, foi observado que a exposição ao mercúrio acima de 2,0µg/g atingiu 84,0% dos
participantes do estudo (241 indígenas), enquanto a prevalência média de exposição acima 6,0µg/g afetou 10,8%, que são 31 indígenas. No relatório da Fiocruz, o estudo considerou que níveis acima de 6 microgramas de mercúrio por grama de cabelo (μg.g-1 ) podem trazer sérias consequências à saúde, principalmente a grupos vulneráveis, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O coordenador do estudo e pesquisador da Ensp/Fiocruz, Paulo Basta, reforçou que “o cenário de vulnerabilidade aumenta exponencialmente o risco de adoecimento das crianças que vivem na região”. Além disso, informou que a exposição ao mercúrio traz manifestações clínicas mais severas, principalmente em menores de 5 anos.
“A avaliação neurológica dos indígenas adultos revelou que aproximadamente 1/3 dos examinados apresentaram déficits cognitivos, sendo que os problemas foram detectados com mais frequência em mulheres do que em homens”, aponta o relatório. Ou seja, esses indígenas apresentaram déficits cognitivos e danos em nervos nas extremidades, como mãos, braços, pés e pernas, com mais frequência.
A contaminação por Hg, advinda da atividade mineradora ilegal, também impactou em quadros clínicos como de transtornos nutricionais, anemia, diabetes e hipertensão.
“O garimpo é o maior mal que temos hoje na Terra Yanomami. É necessário e urgente a desintrusão, a saída desses invasores. Se o garimpo permanece, permanece também a contaminação, devastação, doenças como malária, desnutrição e isso é o resultado dessa pesquisa, é a prova concreta!”,
afirmou o vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dário Vitório Kopenawa, ao Instituto Socioambiental.
O estudo também analisou 47 amostras de peixes, 14 de água e sedimentos do rio Mucajaí e afluentes. Todas as amostras de peixes apresentaram algum grau de contaminação por mercúrio, sendo as maiores concentrações detectadas em peixes carnívoros, em espécies muito apreciadas na Amazônia, tais como o mandubé e piranha.
A análise do risco atribuível ao consumo de pescado revelou que a ingestão diária de mercúrio excede em três vezes a dose de referência preconizada pela Agência de Proteção Ambiental do governo estadunidense (U.S.EPA).
A análise das amostras de água não revelou contaminação por mercúrio. Por outro lado, duas amostras de sedimentos apresentaram níveis de mercúrio acima do nível 1 da resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) que trata do tema.
Fonte: Folha BV