- 26 de novembro de 2024
Que experiências?
Essa foto postada nas redes sociais do Tribunal de Justiça chama atenção pelo título: "Comitiva do TJPI visita poder judiciário roraimense para troca de experiências". Mas na foto estão os desembargadores Mozarildo Cavalcanti Filho e Almiro Padilha, apontados em inquérito do CNJ como membros de uma suposta confraria que vendia liminares e sentenças milionárias.
Pode ser que Mozarildo e Almiro sejam inteiramente inocentes, como, também, pode ser que não. Daí, o título da foto, ao meu ver, como jornalista, ironicamente soa questionável: que troca de experiências quando dois desembargadores locais que recepcionam tal comitiva do Piauí estão com a cabeça na guilhotinha no CNJ?
Interessante é que a parceria de Almiro e Mozarildo, que já relatei aqui, e isso vem desde da bocada que Almiro arrumou para Mozarildo contar pontos para ser desembargador apenas homologando, canetando, todo o trabalho feito por juízes em processos do Dpvat, até lhe emprestar R$ 200 mil, e o acompanhar votando igual em quase todos os processos relatados por Mozarildo, fica evidente na foto. Lá estão os dois parceiros apontados pelo CNJ.
DONO DE SAUNA - Esse caso da bocada do Dpvat foi considerado, na brincadeira, pelo saudoso desembargador Robério Nunes dos Anjos, como "caso típico do dono de sauna, que ganha a vida com o suor dos outros."
E sobre esses R$ 200 mil que Almiro Padilha emprestou a Mozarildo, e que segundo Almiro, foram declarados no seu imposto de renda, fica a pergunta para Mozarildo: não seria mais apropriado um desembargador pedir auxílio financeiro a um banco do que, moralmente, dever um favor desse tamanho (R$ 200 mil emprestados) a um colega?
VOTOS DE GRATIDÃO - Questiono isso, porque, sabemos que há julgamentos em que se deseja o acompanhamento dos demais colegas em relatórios apresentados quando se relata um processo. Então, não acompanhar relatórios ou certos relatórios de quem lhe emprestou R$ 200 mil quando esse montante valia o que seria hoje uns R$ 300 mil, não seria descortesia, mal agradecimento ou sacanagem com quem lhe fez um favorzão?
Emprestar dinheiro, ainda mais o que, hoje, seriam R$ 300 mil, sem juros, demonstra um grau de comprometimento e ligação muito grande. Imagino que essa dinheirama que Almiro emprestou tenha sido muito importante e necessária para Mozarildo. E uma grana dessa, em que se presta um grande favor, Almiro emprestaria para mais quem fora do tribunal?
BRODERAGENS - Vemos que essa confraria apontada pelo CNJ formada pelos dois desembargadores e mais os juízes Aluísio Vieira e Luís Alberto Moraes tem isso mesmo de broderagem.
Se não, vejamos: Almiro facilitou a vida de Mozarildo, que facilitou as vidas de Aluísio e Luís Alberto nas varas da Fazenda, que tinham as vidas facilitadas por Jean Michetti, procurador do estado, que não recorria - ou recorria de modo leve - das decisões pesadas da 1ª VF e nem denunciou seus abusos mesmo sendo procurador do estado.
Porém, Michetti poderia ter apoio para ser indicado desembargador por Almiro e Mozarildo, não é?
Tudo isso é o que o relatório do CNJ nos leva a crer. Por isso, olhando apenas a foto e o título dela, em que dois desembargadores acusados no CNJ de participarem de suposto esquema de vendas de liminares e sentemças, juntos com uma comitiva do TJPI com a legenda informando "visita para troca de experiências", nos faz questionar: que experiências?