- 26 de novembro de 2024
O GOVERNO DOS MORTOS
JOBIS PODOSAN
Embora esse titulo pareça estranho, a verdade é que nós, que ainda estamos embarcados no trem da vida, vivemos e governamos as nossas vidas e o nosso país ancorados nas ações e ideias das gerações que nos antecederam. Quanto mais estudamos o passado mais compreendemos e melhoramos o presente e preparamos o futuro para as próximas gerações.
Achei estranho ler na imprensa um ministro de estado do governo anterior dizer que não conhecia o AI-5, pois nasceu em 1963 e nunca estudou sobre o tema, embora general. Disse mais: que se trata de coisa do passado e que, portanto, passou.
Se nós fôssemos elefantes isto seria verdadeiro, pois elefantes não são capazes de produzir cultura, privilégio atribuído unicamente aos humanos. Jamais pensei a minha vida sem o passado, como jamais pensei que um general limitasse o seu aprendizado e o seu saber ao que ocorre no curto período no qual está encarnado, copiando certo ex-presidente ainda vivo. Se nada sabe do passado, não sabe quem foi Luís Alves de Lima e Silva, porque o passado passou. Se abstrairmos tudo que aconteceu antes do nascimento do general - lembrando a ele que o AI5 é de 13.12.1968 - tivemos um saco vazio de cultura à frente de um dos ministérios mais importantes do governo.
É claro que esse bisonho general não sabe que os vivos são governados pelos mortos, através de um fenômeno chamado cultura, através do qual cada geração aprende com o passado e colabora com o futuro através da sua capacitação e produção em vida.
Se, por um acaso absurdo, toda a população da terra morresse e só ficassem vivos os bebês de menos de um ano, os que sobrevessem teriam de reinventar o mundo, a partir do nada. A roda pararia de girar, nada poderia ser compreendido e tudo recomeçaria do ponto zero.
E certo que os mais inteligentes do que esse general Pazuello descobririam o significado e a utilidade que as gerações anteriores produziram e logo a civilização voltaria ao seu apogeu. Já fizemos isso, mas demorou um longo tempo.
Agora, porém, com o passado já produzido, esses novos bebês logo descobririam a utilidade de cada coisa e o passado lançaria luzes sobre o presente é logo alimentaria o futuro. Esse ilustre "general", que nada sabe do passado, foi eleito deputado e está exercendo o mandato de deputado federal com os conhecimentos que tem a partir da sua maioridade.
Deve ser uma tortura imensa estar num meio onde o passado reina para alimentar o futuro, sem nada saber antes do ano de 1981, data da sua maioridade à época. Ele viveu sob o AI-5, mas declara nada saber sobre esta excrescência que infelicitou o Brasil na época que vigeu e, até hoje, violenta o caráter dos brasileiros que passaram 12 anos sem aprendizado algum, por falta do contraditório, uma vez que os militares se apossaram da razão e, quem pensasse diferente, poderia até ser posto para fora do país.
Um país somente se desenvolve quando os mortos governam as ideias do país, as pessoas vivas aplicam esse somatório de conhecimentos, produzem e atualizam os conhecimentos produzidos pelos antigos e passam o bastão para as gerações futuras.
É a isto que chamamos civilização. Civilização é soma e multiplicação e não divisão ou subtração.