- 26 de novembro de 2024
O PRAZER DO MEXERICO
JOBIS PODOSAN
O presidente do TSE expediu convite a todos os comandantes das polícias militares estaduais, em Brasília, para agradecer aos serviços prestados pelas suas corporações nos Estados respectivos durante as eleições. A reunião foi marcada para o dia 23 de novembro, quase um mês depois das eleições. Imediatamente, espalhou -se uma versão indignada de muitos setores, sobre a violação ao princípio federativo, uma vez que o Presidente do TSE não poderia convocar comandantes das PMs estaduais para lhes atribuir quaisquer missões, chegando o atual Vice Presidente da República e Senador eleito pelo Rio Grande do Sul a considerar a reunião uma violação do pacto federativo e caracterizador do estado de exceção. Ao que parece perdemos o gosto pela divulgação de notícias verdadeiras e completas e passamos a nos pronunciar sobre fatos que desconhecemos ou sobre os quais não fizemos a mínima reflexão. Há uma pressa imensa de ser o primeiro a falar, seja lá sobre o que seja, há uma verdadeira sofreguidão em difundir notícias sem qualquer reflexão analítica. Sequer chamou a atenção dos críticos o fato de que o TSE custeou a viagem dos comandantes, uma vez que não lhe compete criar despesas para os demais entes federativos e também não receberam os comandantes quaisquer missões sobre as suas corporações. O convite era para um agradecimento e um elogio às Corporações estaduais que cooperaram na realização das eleições, tendo, todas elas, representações junto aos respectivos TREs. Não houve chamado para fazer, mas agradecer o que foi feito.
Não houve convocação ou requisição, para as quais autoridades federais não tem competência em relação à servidores estaduais. Houve convite, inclusive com o custeio das despesas pelo deslocamento, já que o TSE não pode gerar despesa aos cofres estaduais. Quem quis ir, foi. Quem não quis, não foi, sem nenhuma consequência. Não ir não era um ato de heroísmo, mas uma opção para qualquer dos convidados. A eleição já acabou e nada mais seria pedido às autoridades policiais dos Estados. Foram chamados pelo que fizeram e não pelo que iriam fazer. Não vi nenhum governador insurgir-se contra o convite. Porém, compreende-se, os tempos estão difíceis e o direito está na berlinda: todos pensam que o conhecem profundamente e, quanto menos sabem, mais alto vociferam.
Dos árabes recebemos a noção do maktub (está escrito), a nos dizer que a palavra escrita deve traduzir uma verdade, pois ninguém se daria ao trabalho de difundir por escrito algo que não fosse ou seja verdadeiro. Modernamente perdemos o senso crítico e nos despreocupamos com o que difundimos. Repassamos todas as bobagens que recebemos sem passar pelas três peneiras de Sócrates e estamos pouco preocupados com a nossa própria reputação. Mas este é o nosso tempo, não mais produzimos informações, repassamos as que nos chegam sem preocupação com a fonte. Mas esse tempo passará, o científico sempre supera o mexerico.