A VIRTUDE ESTÁ NO MEIO
JOBIS PODOSAN
Há posições extremas tanto à direita quanto à esquerda. Qualquer ato praticado pela esquerda encontra todo apoio dos seus seguidores. De igual modo, o pessoal da direita a tudo justifica. De ambos, seja qual defeito for, tudo se explica plenamente. Daí dizer-se que a virtude está no meio, na posição intermediária entre os extremos. Extremistas produzem soluções extremas, dividindo a nação, produzindo inimigos dentre irmãos, cujos crimes são o pensar diferente. Esquecem a dialética e se apossam da razão, como se houvesse um único caminho para chegar ao objetivo. Os extremistas esquecem de que, à medida que radicalizam, perdem adeptos porque os extremistas precisam usar a força para continuarem a existir.
O primeiro presidente eleito no regime plural da atual Constituição foi tirado do poder porque se apossou da razão extrema: ele pensava estar certo em tudo o que fazia. Virou uma lesma política perdendo o vigor da atuação e apagando as próprias luzes. Jaz, semimorto, numa cadeira do Senado, sem brilho e sem palavras, eleito pelo pequeno estado no qual ainda vigora ideais coronelistas.
O atual presidente entregou a cara ao fogo pelo seu ex-ministro da educação, mesmo antes do início do processo. Precipitou-se e teve de recuar oferecendo as mãos, mas já admitindo a possibilidade de o seu aliado estar surpreendentemente, para ele, errado. E o que fez o homem? Confessou, alto e bom som, que as verbas seriam direcionadas, por ordem do próprio Presidente, a quem dois pastores sem cargo público indicassem, cometendo, numa só expressão, vários crimes. Dono da razão, como todo extremista, o Presidente dá República fala antes de pensar e se atropela a cada frase. A cada despautério perde adeptos e corre o risco de falar sozinho quando as escamas dos olhos dos seus seguidores forem caindo.
Numa República ninguém é, sozinho, o senhor da razão. A República é plural, como aliás está dito na própria Constituição que elenca, entre os cinco fundamentos da República Federativa do Brasil, no seu artigo primeiro, que um dos fundamentos da nossa República é o pluralismo político. Isto significa que o pensar de cada cidadão é livre de quaisquer amarras. Cada cidadão decide se é bolsonarista, lulista, comunista, democrata, capitalista, socialista, ditador ou o que diabo for sem que sofra diatribes governamentais.
Os romanos diziam que a virtude está num ponto equidistante dos extremos, como no título deste artigo: a virtude está no meio, que é o ponto de equilíbrio entre os extremos. Na política há radicais extremistas à esquerda e à direita e eles fazem parte do espectro político, com direito a estarem aonde estão e defender as ideias e ideais que defendem, o que não podem é, uma vez no poder, fazer a balança pender para um dos lados, esquecendo a razão.
A derrocada de qualquer ser humano inicia quando ele pensa ser perfeito.
Nenhum homem precisa ser perfeito, basta saber que é imperfeito. Ciente disso pode realizar grandes coisas e, principalmente, respeitar as imperfeições alheias.
Uma grande manifestação de tolice é buscar o erro dos outros para jogar luz sobre si mesmo. Essa tolice reverbera contra o tolo e os seus defeitos e tolo não vê que os defeitos que aponta nos outros são apenas reflexos dos próprios erros. Somos todos imperfeitos, enquanto encarnados, mas em busca da perfeição no mundo espiritual. Aqui na terra somos tão felizes quanto menos imperfeitos formos e ninguém pode apontar defeitos nos outros sem que revele os seus próprios.
Governos de extrema direita ou de extrema esqueda separam o país entre "nós e eles". Nos governos do PT "nós" era a esquerda e "eles" o centro e a direito. No governo atual é o inverso: "nós" é a direita e "eles" a esquerda e o centro. Na verdade, essas categorias inexistem, pois somos todos brasileiros, todos somos nós, uns pensam de um jeito é outros pensam de outro, somos todos iguais, mas podemos pensar diferente.
A vontade geral da nação é uma só: a busca da felicidade. Mas os caminhos são plurais para caber a todos. Pensar como o governo é só um modo de pensar. Pensar como a oposição é só um modo de pensar. E qual o modo certo? O que cada um escolher. E a alternância no poder é a prova desse modo de pensar. Hoje é um amanhã é o outro e todos somos um só: o povo brasileiro. Somos uma soma de parcelas diferentes e não uma divisão do povo em parcelas desiguais.