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EDITORIAL

Não se fazem mais vereadores como antigamente


Não se fazem mais vereadores
como antigamente

Muitos eleitores devem estar arrependidos nos vereadores em que votaram. Em conturbada sessão, transcorrida na última terça-feira, os vereadores de Boa Vista aprovaram a chamada “Lei do Barulho”. Agora, vai melhorar a poluição sonora que tanto incomoda a população, chegando mesmo a ser uma questão de saúde pública. Certo? Errado!

A lei que os vereadores aprovaram, modificando artigos da Lei Municipal 513/2000, ao contrário, eleva ainda mais a poluição sonora. É certo que a vitória dos barulhentos se dera, por enquanto, apenas em primeiro turno. Ainda não é definitiva.

A se confirmar a aprovação no segundo turno, no entanto, estará sacramentado o contra-senso. Projeto destinado a aumentar a poluição sonora ou qualquer outro tipo de poluição soa como algo inverossímil, destrambelhado.

Não tem sentido aprovar-se um projeto na base do grito, excluindo-se o bom-senso, o debate mais aprofundado. E parece que foi isso o que ocorreu. Qualquer ideia contrária da parte dos vereadores era rechaçada com vaias e manifestações de desaprovação por parte da plateia que acompanhava os trabalhos.

É opinião corrente que os maiores interessados na aprovação do aumento dos decibéis eram os integrantes de denominações religiosas que encontram na gritaria a melhor forma de adoração a Deus. Se é verdade, há um redondo engano.

Como escreveu o cronista Aroldo Pinheiro, Deus não é surdo. Uma prova está nas Escrituras Sagradas, no capítulo 18 do primeiro livro dos Reis. Ali se vê que os 450 profetas de Baal gritaram a não poder mais, sem que houvesse qualquer resposta da parte de seu deus.

Já o profeta Elias, sozinho, apenas “disse” – não gritou – (versículo 36) e Deus lhe respondeu enviando o fogo do céu que consumiu a oferta do holocausto proposto, que se achava encharcado em meio a muitas águas.

Quando Deus quer ouvir não se faz necessário choro nem ranger de dentes. Muito menos gritos de desespero ao microfone. Basta uma só palavra.

Sem dúvida, os vereadores perderam muito com a aprovação da chamada Lei do Barulho. Agora terão de aprovar qualquer coisa, por mais monstruosa que seja, desde que haja barulho. É a prova de que perderam a força moral para fazer o que é certo.

E pior: a lei do barulho não beneficia apenas as igrejas evangélicas ou outras denominações que ajam em nome de Deus. Qualquer ajuntamento orquestrado ou mesmo casa noturna de quinta categoria poderá fazer o seu barulho particular. Poderá perturbar sem ser perturbado. A Lei, que é para todos, estará aí para lhes acobertar, o que, aliás, é muito justo.

Não é por nada, não, mas parece que já não se fazem mais vereadores como antigamente!

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