00:00:00

Crônica do Aroldo

Censura e idiotice


\"\"Censura e idiotice
 
- Oi...

- É o escritor Aroldo Pinheiro?

- Sim...

- Aqui é Maria de Lourdes Andrade... Estou ligando para dizer que você é uma excrescência... Como uma pessoa pode ser tão devassa?

- Como, minha senhora? Não entendi...

- Esses seus textos imundos não acrescentam nada a ninguém e, além do mais...

- Calma, minha senhora... Primeiro: nos conhecemos de algum lugar? Não me lembro...

- Não. Nada disso. Sou leitora assídua de alguns sites e adoro crônicas... Vez por outra, acesso seus textos...

- Ah. Que bom. Sinto-me lisonjeado, dona...?

- Maria... Maria de Lourdes... Maria de Lourdes Andrade...

- Pois é, dona Maria... Sinto-me lisonjeado e, até agora, não sei onde me encaixo nas palavras que a senhora usou ao início de nossa conversa...

- Explico... O computador lá de minha casa deu pau e, hoje, tentei acessar a internet usando a máquina do meu trabalho... Ao tentar baixar sua crônica "A Arte de levar vantagem", abriu-se uma mensagem informando que o texto era impróprio e que nove termos indevidos o bloqueavam...

- Um instante, por favor, dona Maria... – Passados alguns segundos – Estou com o texto à minha frente e não consigo ver nenhuma palavra que pudesse levar-me à censura... Não nesta crônica...

- Pois tá aqui: "menores de 18 anos", "peitos", "coxa", "tesão", "maiores de 14 anos", "12 e 13 anos", "9 anos" e "14 anos" ...

- Dona Maria de Lourdes, me desculpe. Não sei que critérios usaram para censurar. Se a senhora pudesse lê-lo na íntegra, veria que todas as expressões são contextualizadas... Não sei o que passa na cabeça de quem elaborou o programa bloqueador. A censura, em si, é uma aberração proibida pela Constituição Federal...

- Mas...

- Dona Maria, eu sei de uma repartição que bloqueia Picasso, por exemplo, simplesmente por causa de das duas primeiras sílabas do nome. Pesquisar a obra do grande pintor espanhol, nem pensar, pois as duas primeiras letras de cubismo lembram o lugar onde termina a coluna vertebral. Ler sobre a ilha de Fidel Castro, Cuba, também não pode: a primeira sílaba, para esses falsos moralistas, é imprópria pelo mesmo motivo... Até palavras como transamericana e tansamazônica são vetadas. Sabe por quê? Porque as duas primeiras sílabas formam a palavra transa, considerada um desrespeito pelos hipócritas.

"Imagine-se pesqui- sando peixes amazô-nicos: pacu, aracu, pirarucu, baiacu, tambacu, cubiu, curimatã... No meio de tanto cê-u, o computador enlouqueceria..."

Clique. Dona Maria de Lourdes desligou.

Pensei: "A leitora falou em nove termos, mas citou oito". Fui em busca do nono. Li e reli o texto, mas fiquei em dúvida. Seria "furei"..., ou "funga-funga"? Hummm..., terá sido "onomatopéia"? É possível que os censores proíbam palavras que não pertençam a seus vocabulários. Alguém aí pode me dizer o que passa pela cabeça desses idiotas?
 

Últimas Postagens