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Crônica do Aroldo

Compensações


 Compensações               

Entrei no supermercado e lá estava ele. Trabalhando como sempre. Supervisionando caixas, conferindo mercadorias em gôndolas, conversando com o açougueiro, cumprimentando um cliente. Zequinha é assim. Durante os 70 anos de vida, faltou poucas vezes ao trabalho. As vezes em que se ausentou foram por motivo de saúde. Questões sérias. Doenças que o impossibilitavam deixar o leito. Uma malária, uma crise renal, e, recentemente, uma cirurgia para extirpar ou frear um tumor surgido na próstata.

Ele gosta do que faz. A aparência não denuncia a idade que tem.

Cumprimentei-o e nos perdemos em conversa frugal. Em pouco, falávamos sobre amigos comuns. Renato, Arlindo, Raimundinho, João das Quengas, Cachorro-magro... Uns mortos, outros sumidos.

- Ah! Ontem encontrei o Hilton... Parece que se aprumou... Ele tá com aspecto muito bom...

- Pois é... Arlindo fez uma cirurgia igual à minha... Olha, hoje, a medicina é espetacular... Depois que fiz aquela operação, sinto-me outro homem... Sinto-me como se tivesse 40 anos... Minha energia é de um menino de 30. – Olhou para os lados e, meio sem jeito, ar meio safado, filosofou – É assim. Eu me sinto muito bem, mas tudo na vida tem compensações. Tou disposto, mas tou capado... Rapaz, essa operação deixa a gente zerado... – E, demonstrando a macheza do homem brasileiro, concluiu – Olha, cara, ereção eu não tenho mais... Em compensação, a vontade de fazer safadeza aumentou muito.

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