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EDITORIAL

Cantiga suave para enganar besta


Cantiga suave para
enganar besta

A falta de cuidado com as cidades, com diminutas e honrosas exceções, é fato recorrente em todo o Brasil. A chegada deste verão, a exemplo do que ocorreu em anos anteriores, mostrou o quanto algumas delas estão despreparadas para um período chuvoso mais acirrado, como o que está se verificando neste início de 2010, no Centro-Sul do país.

Boa Vista, por ser plana, não experimenta desastres maiores como os registrados nas cidades que abrigam moradias construídas sobre morros ou em suas encostas, a exemplo da região de Angra dos Reis – no Rio de Janeiro –, de Belo Horizonte ou da periferia de São Paulo.  Mesmo assim, também não está isenta de descompassos.

No bairro Centenário, por exemplo, vinte bueiros ficaram com a boca aberta quase um ano após os trabalhos de pavimentação e recapeamento asfáltico realizados pela Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV). A displicência demonstra o nível de descaso praticado pela administração pública diante da população usuária de seus serviços.

O desleixo foi motivo de constrangimento para a administração ao ser mostrado na TV pelo deputado Márcio Junqueira, em seu programa "Roraima passando a limpo". Imagens com mato cobrindo os bueiros e relatos de moradores informando que crianças já se feriram ao cair neles. Isto, sem falar nos carros e motos que também ali sofreram danos.

É claro que todo esse conjunto de mazelas não é para se comparar com a tragédia que se abate sobre parte da população que habita bairros da periferia paulistana, que sofre com alagamentos e mortes desde o início do período chuvoso. Mas não deixa de causar desconforto.

E o que é pior, os moradores desconfiam que a Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur), cujo presidente é potencial candidato a deputado federal, não dê atenção ao bairro em razão da ligação que seus moradores mantêm com Márcio Junqueira, tido como adversário político do presidente.

Em outras palavras, a questão político- eleitoral pode estar por trás do descaso. Não há razão mais plausível, haja vista que os recursos para a obra foram repassados integralmente. Em contrapartida, há de se convir que nem o Tribunal de Contas nem o Ministério Público fiscalizaram sua aplicação.

No ano passado, o MPE determinou que Márcio Junqueira fechasse um poço artesiano que mandara perfurar no bairro São Bento (Brigadeiro). Isto, porque a água não chegava àquele bairro.

A realidade de Boa Vista, que passou por eleição há pouco mais de um ano, está longe de ser o paraíso cantado em verso e prosa nas peças de propaganda institucional de TV. Que o diga o programa "Roraima passando a limpo". Toda propaganda não passa de cantiga suave para enganar besta.

 

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