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EDITORIAL

País deixa de ser de empreendedores para ser de concursados


Mais tempo, mais dinheiro

É inegável que o sonho da quase totalidade dos jovens brasileiros é abocanhar um emprego no setor público. Dane-se, portanto, a iniciativa privada. Feneça-se de vez o empreendedorismo. Essa tendência vem sendo incentivada cada vez mais pelos próprios pais, que veem no serviço público a perenidade do emprego. A garantia da estabilidade.

O que mais se vê é jovem saindo da faculdade, com um canudo na mão, em busca de um cursinho preparatório qualquer para enfrentar concursos públicos nas mais variadas áreas de atividade. Os cargos mais cobiçados são juiz de direito, delegado de polícia, técnico do Tesouro Nacional, entre outros. Oficial das Forças Armadas poucos querem. Não dá dinheiro.

Longe de dizer que esta seja uma tendência nova, bom lembrar que ela é histórica e cultural. Alguém ainda se lembra do Pádua – pai de Capitu –, funcionário público modesto do Ministério da Guerra, que teve dois lances de sorte na vida: ganhou na loteria e serviu durante dois anos como administrador interino de uma carteira de terceira categoria em sua repartição? (Pádua é personagem de Machado de Assis em Dom Casmurro).

É inegável, porém, que ela receba, hoje, incentivos maiores que em outros tempos. Um aspecto é a falta de apoio governamental para quem se aventura a tocar o barco por conta.

Basta ver o grande número de microempresas instituídas anualmente e o número delas que fecha as portas no mesmo período. Vai aí certa dose de incúria, inaptidão para o negócio da parte daqueles que, sendo galinha, ousam alçar o vôo da águia. Mas não há de se deixar de considerar a alta carga tributária, fruto da sanha arrecadadora do Estado.

E isso é péssimo para o país. Talvez o maior responsável pelo atraso em que vivemos. Diferente dos Estados Unidos, por exemplo, onde a valorização da figura do empreendedor, além da priorização dos pequenos negócios, é coisa levada a sério.

Ao invés disso, no Brasil procura-se priorizar o ócio. Um empreguinho onde se trabalhe cinco horas por dia, cinco dias na semana, um salariozinho certo no fim do mês e está tudo de bom tamanho. Algo um pouco melhor que a figura do Jeca Tatu, personagem criado por Monteiro Lobato e imortalizado no cinema pelo saudoso Mazaroppi.

Não será à custa de empreguismo no setor público que o país vai sair do marasmo em que se acha patinando há mais de 500 anos. Bill Gates não seria Bill Gates se fosse funcionário público nos Estados Unidos ou em qualquer outro canto do mundo.

Um bom advogado ganha infinitamente mais que um procurador de estado, juiz de direito ou delegado de polícia. Mas para ser um bom advogado é preciso bem mais que força de vontade. É preciso ousar. E pagar para ver.

É o que dizem Gustavo Cerbasi e Christian Barbosa, em seu livro “Mais tempo, mais dinheiro” (Thomas Nelson Brasil, 2009):

“Para termos mais tempo e mais dinheiro, é preciso aumentar nossa zona de conforto, saindo de nossos limites atuais e aceitando desconfortos temporários” (p.66).

Quantos empregos são gerados por juízes, delegados federais, promotores ou atendentes públicos?

Com mais tempo e mais dinheiro, pode-se dar mais emprego, caminho mais curto para se tirar o país da dependência das bolsas-misérias da vida.

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