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FRANCISCO ESPIRIDIÃO

Não dá para se cultivar ídolos


O ídolo

Na minha adolescência – e lá se vão muitos janeiros -, a gente elegia um ídolo e procurava segui-lo em toda sua existência. De certa forma, a proposta não se fazia totalmente possível porque, à época, não havia lá grandes recursos para monitorá-lo pari passu.

O que chegava até o grande público era filtrado. Ou seja, só se sabia o que queriam que se soubesse. Melhor assim. "O que os olhos não veem o coração não sente". Nossos líderes quedavam-se num sacro pedestal, acima de qualquer suspeita.

Esse recurso providencial servia como luva para mantê-lo, como o próprio nome sugere, numa redoma que impedia, de certa forma, quebrar-lhe a aura hagiográfica. Não se ousava sequer cogitar de alguma mácula em sua imagem. Santa inocência!

Qualquer patrulha em derredor do ídolo era impensável. Os meios de comunicação não dispunham, então, da tecnologia avançada que se tem hoje, onde tudo acontece “full time”, na velocidade da luz.

Nem tudo nesse contexto, porém, é saudosismo. Mesmo diante de tantos recursos cibernéticos, o ser humano continua ser humano. Tanto hoje como antes. Assim, não há por que se criticar que, ainda hoje, mantenha-se firme a cultura do ídolo pulsando com a força de um leão. Basta ver a tietagem em torno de artistas consagrados.

Mas que tem dado um trabalhão para não se chutar tudo para o alto, lá isso tem! Os exemplos em todas as áreas são desalentadores. Se você os procura na política, quem vem à mente? Jáder Barbalho, José Sarney, José Arruda, Dilma Mãe do PAC Rousseff, que mente que nem sente desde que era terrorista nos anos 70...

Nos esportes, Tiger Woods, Ronaldo Fenômeno e suas “acompanhantes noturnas”; juízes que vendem partidas de futebol... Partindo para a dramaturgia, seja no teatro, cinema ou na televisão, o que se vê é a promiscuidade rolando solta. Neguinho troca de mulher como quem troca de camisa.

No jornalismo, o que mais tem é gente se vendendo por trinta dinheiros. Hoje é vascaíno, amanhã, sem ter nem pra quê, já vira flamenguista. A última decepção foi o homem do bordão “ISTO É UMA VERGONHA!”. Demonstrou fria e secamente que toda sua indignação com os poderosos e indecorosos de plantão não passa de casca.

Não! Definitivamente, não dá para se cultivar ídolos entre os homens. A não ser que também estejamos decididos a jogar de vez a vergonha na lata do lixo. Se for para imitar alguém, fiquemos com a indicação do apóstolo Paulo, em Efésios 5.1-2:

“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como Cristo também vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave.”

(*) Jornalista, autor de "Até Quando" (2004) e "Histórias de Redação" (2009); blog franciscospid.blogspot.com; e-mail: [email protected]

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