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J. R. Rodrigues

A Venezuela entrou no Mercosul. Em qual deles?


A Venezuela entrou no Mercosul. Em qual deles?

O assassinato do motorista da empresa União Cascavel, Antonio Rocha da Silva, quando cometia o pecado de trabalhar na nação amiga Venezuela é apenas um capítulo a mais na conturbada relação fronteiriça entre Brasil (Roraima) e Venezuela. A violência que campeia na Venezuela, os altos índices de desemprego, o permanente clima de tensão, as crises, os atos – alguns nada democráticos - do Presidente Hugo Chaves, etc. são contrastes com um país lindo e onde a maioria da população é receptiva, tem vocação para o turismo e trata bem os visitantes.

Estive na Venezuela por 11 vezes durante os últimos anos e pessoalmente em apenas duas ocasiões fui perturbado por péssimos cidadãos venezuelanos. Uma vez estava em uma rua de Porlamar e fui abordado por um cidadão a paisana se dizendo policial, que insistia em cobrar uma propina (lá tem sentido de Gorjeta e não é pejorativo). Apresentei-me como jornalista (periodista) e me safei graças ao meu “portunhol” razoável.

Na  segunda vez chegava ao hotel em Margarita e fui seguido por duas motocicletas, pilotadas por policiais de Mariño - espécie de município. Eles ameaçaram aplicar mudar, deter-nos e até apreender os veículos sob a ridícula alegação de que eu vinha dirigindo fazendo curvas. Expliquei que havia buracos na rua e falando um pouco melhor o espanhol, deixei que eles argumentassem e em seguida me apresentei como jornalista e agora já como advogado. Disse que estava envergonhado em vê que na Venezuela havia policiais que descumpria as leis de seus países, extorquia turistas, igual no Brasil, etc. Disse que  isso era ruim para os  venezuelanos, sobretudo para Margarita, uma cidade turística.

O comportamento seguinte dos policiais foi uma piada eles disseram que estavam brincando com a gente por que sabia que éramos brasileiros hermanos, mas disseram que recebiam um salário de miséria, ficavam o dia no sol quente dando segurança para os que turistas, que passavam fome e pediram uma propina para pagar o almoço deles.

Apesar de ser constrangido nestas duas ocasiões ainda assim me sinto um privilegiado diante de centenas de relatos de violência, abusos, golpes (paluda, paquete chileno, etc.)  e toda espécie de crimes praticados contra turistas. Antes que se condene o povo venezuelano sobre esses fatos é necessário que haja alguma ponderação. Assaltos, mortes, violência, constrangimentos, etc.  acontecem todas as horas em todos os países envolvendo pessoas de todos os níveis sociais, o que choca no caso específico da Venezuela é a ausência do Estado venezuelano para combater esses ataques contra os brasileiros, o que deixa os bons cidadãos dos dois países em saia justa.

O mesmo Estado venezuelano que é conhecido pela dureza com que trata os estrangeiros, garimpeiros, “depredadores do meio ambiente”, etc., que possui um dos piores sistemas carcerários do mundo, é acusado de ser complacente com retirantes da Colômbia, Bolívia, Peru, Equador, etc.

A política venezuelana para seus vizinhos - excetos os brasileiros - acaba atraindo milhares de pessoas destas nações que se naturalizam num processo simplificado (a mesma regra legal vale para brasileiros ilegais que queiram se tornar cidadãos venezuelanos.

Ocorre que se ainda não vivemos uma relação 100% amistosa, é verdade que houve uma evolução, mesmo assim em casos isolados os brasileiros são tratados como gente se terceira classe, sem falar nos incidentes e acidentes como a morte do motorista da Eucatur; achaque por parte de policiais incluindo os das polícias estadual  e municipal e  aqui faça se justiça, após a saída da Guarda Nacional do patrulhamento da fronteira e das Alcabalas (pontos de controle de tráfego de pessoas e veículos) e a entrada do Exército, praticamente zerou o número de abusos que eram cometidos em números assustadores por membros da GN e que incluíam até apropriação de bens e objetos, assédio moral e até sexual contra brasileiros, além do constrangimento de está num outro país, de língua estranha e ser molestado por aqueles que deveriam oferecer segurança.

Dezenas de ocorrências foram registradas pela imprensa local, mas não se tem notícia de que um único processo tenha sido aberto e investigado ou que algum policial venezuelano tenha sido punido por ter praticado excessos contra brasileiros. Isso é um contra senso uma vez que o sistema judiciário e carcerário venezuelano é bem severo com quem pratica esses crimes, talvez severo demais para punir algum venezuelano apenas por ter cometido algum crime contra brasileiros.

A conseqüência direta disso é a diminuição do número de turistas brasileiros (roraimenses e amazonenses, em especial) e a busca por outros destinos para curtir as férias. Para aqueles que torciam pela entrada da Venezuela no MERCOSUL (eu estou nessa relação) resta torcer que 2009 seja o último ano desta caótica relação e que a partir de 2010 brasileiros e venezuelanos possam está mais próximos e solidários. Também há queixa de venezuelanos em relação a autoridades brasileiras, mas não há nenhum registro de que venezuelanos tenham sido assaltados, humilhados, saqueados, roubados e assinados em Roraima e ficado impunemente.

A confirmação da Venezuela no MERCOSUL deixa em única dúvida: Qual dos mercados a Venezuela irá implementar:  o das importações e exportações, das balanças comerciais, dos déficits e superávits, do multimilionário comércio internacional ou se está nos planos do Governo Hugo Chaves efetivar o MERCOSUL humano, cultural, cidadão, fronteiriço, dos problemas comuns das duas nações, etc. Há dúvida se primeira opção beneficia as empresas nacionais, já que a maioria das empresas importadoras/exportadoras são multinacionais. O verdadeiro MERCOSUL  só será efetivado quando brasileiros e venezuelanos se sentirem protegidos, seguros, amados, respeitados e envolvidos cultural-social-política e economicamente no país vizinho. Sem esses ingredientes de nada adiantará os bilhões de dólares movimentados.

Assim de nada adiantará os esforços do SEBRAE-RR, FIER, FECOR, Governo do Estado, prefeituras fronteiriças, assembleia legislativa e dos demais órgãos públicos e privados dos dois países  que há décadas tentam melhorar as relações fronteiriças. Eu não quero ser tratamento como um container cheio de bugiganga chinesa, mas acredito na reciprocidade e sei que  não adianta reclamar dos venezuelanos se pouca coisa está sendo feita de concreto para unir as duas nações.

Jornalista – [email protected]

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