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J. R. Rodrigues

Velas, lamparinas e apagões. Era só o que faltava


Velas, lamparinas e apagões. Era só o que faltava

Existem vários provérbios que sintetizam aquela situação que está ruim, mas que pode piorar. Assim me sentir ao lê a cobertura da imprensa local, com destaque do jornal Folha de Boa Vista, de que vamos ter um racionamento de energia elétrica a partir das próximas horas.

Lembrei de minha chegada em Roraima há quase 30 anos, por coincidência numa noite de escuridão. Eu vinha de uma cidade do interior paraense onde apagões, racionamentos, etc. eram bastante comuns, mas Boa Vista era uma capital e isso me causou estranheza.

Acontece que 21 anos depois da transformação em Estado, da consolidação política com senadores, deputados federais, assembléia legislativa e todas as demais instituições, etc. Roraima ainda vive período de trevas, que serão revividas no sentido literal da palavra.

Somente contando os governadores eleitos a partir de 1990 tivemos Ottomar Pinto, Neudo Campos por dois mandatos, Flamarion Portela, Ottomar Pinto novamente e, mandato tempão, Ottomar Pinto eleito e o atual governador e apenas nas gestões de Ottomar (1991-1994) e Neudo Campos é que algo feito algo para resolver o problema no fornecimento de energia elétrica.

Ottomar construiu a pequena UHE-Jatapú, que durante anos segurou a onda, mas pelo fato de ter sido abandonada nos anos seguintes e não ter recebido as demais turbinas para o qual foi projetada, hoje é uma bomba relógio. Recentemente deputados estaduais detectaram vazamentos e a qualquer momento, além de corrermos o risco de ficarmos sem a energia gerada por aquela usina, poderemos ser vitimas de um desastre. Mesmo assim a energia de Jatapú ainda supre uma necessidade da região sul.

Na gestão Neudo Campos foi construído o Linhão de Guri, que recebe energia do Complexo de Macágua, na região de Puerto Ordaz (Venezuela). Aliás, polêmicas a parte, graças a energia venezuelana trazida no Governo Neudo Campos vivemos alguns anos de luz.

A confirmação pelo Governo Venezuelano de que serão cortados 20% da energia que chega a Roraima, além de causar os transtornos que todos sabem, traz algumas outras conseqüências e nos força a refletir sobre algumas questões.

Passados 21 anos continuamos sem energia confiável e sem uma definição da questão fundiária e a primeira conseqüência disso e que nenhum empresário pensa sequer em visitar um estado sem estas duas condições; Se o governo federal nunca planejou uma política energética para o país que convive com sucessivos apagões, por que se preocuparia se os roraimenses voltarem a viver dependendo de lamparinas e velas?

Com a chegada da energia da Venezuela, os parques termelétricos de Boa Vista e do interior foram desmontados e as melhores máquinas levadas para outros estados, então quando Hugo Chaves mandar cortar o fornecimento não devemos esperar uma solução imediata.

Outra importante conclusão que tiramos é que a idéia do Brasil emprestar dinheiro para países como a Guiana e Peru construir hidrelétricas é uma completa falta de lucidez, sendo que o Brasil, em especial Roraima, possui potencial hidro-energético para resolver esse problema em poucos anos. Mas isso não ocorreu no período de governos militares, tão poucos nos governos seguintes de Sarney, Collor, Itamar, oito anos  de FHC e agora em dois mandatos de Lula.

A conclusão final que devemos tirar é que se os demais estados brasileiros, incluindo os do sul e sudeste convivem com apagões, apesar do governo federal teimar em dizer que já somos um país melhor que a Dinamarca, imagine o que devemos esperar para Roraima, a não ser aumentar o estoque de velas e recorrer às velhas lamparinas.

* Jornalista – [email protected]

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