00:00:00

Trabalho

Profissional que vai trabalhar na concorrência só não tem a imagem abalada quando avalia o convite com bom senso e é transparente nas negociações


Sem virar a casaca
Profissional que vai trabalhar na concorrência só não tem a imagem abalada quando avalia o convite com bom senso e é transparente nas negociações

O telefone toca e o primeiro contato é feito. Em vez de um cliente, um desconhecido. Em vez de um bate-papo, uma proposta: trabalhar para o concorrente. O convite é comum, mesmo porque, um segmento, por menor que seja, tem os seus adversários. Um padeiro não vai trabalhar em um hospital e um médico não atua na padaria. A transição de uma empresa para outra pode envolver mais questões e exigir mais cuidados do que se possa imaginar.

O primeiro tem a ver com a recepção da proposta. É preciso estar aberto para pelo menos ouvir e entender a novidade, mesmo estando satisfeito com a atual carreira. Essa é a dica da consultora de recursos humanos da Intellijob Marillac de Castro. Mas ela alerta que, se o profissional não gostar da instituição onde há a vaga ou tenha muitas dúvidas, não deve avançar o processo. No caso de seleções confidenciais, o ideal é buscar o máximo de informações sobre o headhunter(1), o segmento da empresa, seu faturamento, enfim, investigar, assim como estão fazendo com o candidato.

Uma vez compreendido o convite, é a hora de avaliá-lo. O primeiro passo é analisar o momento dentro da atual empresa, ver se compensa largar projetos e abrir mão de benefícios. Tentar refletir sobre o nível de satisfação é outra forma de ponderar a troca. Não querer ir trabalhar e pensar no serviço e no chefe aos fins de semana são sinais de insatisfação. Outro método indicado pela consultora é observar como a empresa tratou seus colegas em uma situação de demissão.

O momento da carreira também pode ser determinante. Um profissional estagnado e sem desafios provavelmente deve aceitar a proposta caso ela reverta esse quadro. Mesmo com uma remuneração menor. É o que acredita Roberto Britto, gerente da recrutadora Robert Half. “Faz sentido ganhar menos e ter uma oportunidade de crescimento maior. É um passo para o lado para depois dar dois para a frente”, defende. Ele completa que, para evitar a frustração, o melhor é não ir pelo dinheiro.

Foi o que aconteceu com Ádalo Reis, que aceitou uma oferta em que perdeu no salário, mas ganhou oportunidades mais promissoras em uma multinacional de informática, o seu alvo profissional. “Faz três anos que saí da outra organização e já recuperei essa perda na remuneração. Gostei de receber a proposta. O mercado é assim, essas são as regras do jogo. Quer dizer que estou no caminho certo”, avalia o mineiro de 40 anos.

O sucesso na empresa anterior praticamente substitui o currículo, segundo Ádalo, pois a imagem de um profissional está atrelada a como os clientes o avaliam. Dessa forma, o gerente de softwares foi encontrado por um headhunter. Segundo o administrador, a nova empresa beneficiou-se, pois conseguiu alguém que já tinha credibilidade com o público. Isso não precisou ser construído do zero. “As organizações já entenderam isso, não existe a menor possibilidade de ser diferente. Passar para a concorrência acontece todo dia.”

Transparência

Quando e como contar sobre a saída é a grande dúvida de muitos profissionais. Ser transparente é a melhor e praticamente a única aposta dos especialistas e dos que passaram pela experiência. Ádalo não só abriu o jogo desde o início, como comunicou aos dois diretores envolvidos, o da empresa que estava deixando e o da que estava ingressando. As duas organizações chegaram, inclusive, a conversar sobre o fato. O importante é esperar ter certeza da mudança antes do anúncio de saída, para que não se perca os dois empregos.

Contrapropostas e tentativas de segurar o bom funcionário devem ser esperadas. O essencial é não fazer leilão, pois nunca se sabe se será necessário voltar. “Leilão é pior que aceitar uma contraproposta. É antiético e capitalista”, ressalta Britto. Ficar queimado no mercado só vai acontecer se o profissional não souber lidar com a situação. “A pessoa vai deixando um rastro e não ser discreto e transparente pode manchar sua marca, que é seu nome”, explica Marillac.

A fase de desligamento também não pode ser feita de qualquer jeito. Em média, esse processo dura 15 dias, período necessário, segundo a também headhunter Marillac, para que toda a documentação seja providenciada e alguém seja treinado para assumir o posto. “O funcionário não pode se mostrar disponível no dia seguinte. Isso mostra descomprometimento. Mas também o contratante não quer nem pode esperar muito”, pondera.


1 - Caçadores de talentos
A pedido de um cliente, eles procuram os melhores candidatos para um cargo. Às vezes, para sondar o alvo, se fazem de cliente. Depois, fazem a proposta, falam da vaga, da empresa, do segmento. O convidado deve ficar atento às fraudes. A principal dica é nunca pagar para participar de uma seleção.


 

Faz sentido ganhar menos e ter uma oportunidade de crescimento maior. É um passo para o lado para depois dar dois para a frente”
Roberto Britto, gerente da recrutadora Robert Half

 



Eu fico?
Confira os prós e os contras de trocar o emprego atual por um na concorrência

Atrativos
Você já conhece o mercado, as estratégias e a dinâmica de trabalho. Vai ser estreante, mas sabe onde está pisando

Geralmente, é uma proposta melhor, tanto financeiramente quanto com relação às possibilidades de crescimento

A produtividade aumenta, já que você tem experiência na área. Ou seja, chega dando resultados

Riscos
Denegrir a imagem, pois há a chance de você lidar com os mesmos clientes. A ética evita esse tipo de problema. Nunca fale mal dos concorrentes

Não conseguir se desligar da empresa anterior e ficar fazendo comparações. A nova empresa não é filial da antiga. Se você fez a troca, enfrente as consequências dessa decisão

Últimas Postagens