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FRANCISCO ESPIRIDIÃO

Eis que estoura mais um do gênero “mensalão”, o terceiro. Mas Lula já determinou: muita calma nessa hora!


Gobineau tinha razão

O diplomata francês Arthur Gobineau serviu a seu país no Brasil por um período inferior a um ano, entre 1869 e 1870. Essa estadia foi, para ele, um suplício. Um dos fundadores do conhecido “racismo científico”, o diplomata não se conformava com o caldeirão de “raças” que formava o povo brasileiro já naquela época.

Três anos depois de deixar o posto no Rio de Janeiro, já na Suécia, escreveu um ensaio sobre a imigração do Brasil. Nele, consta algo que é, em síntese, a cara e jeito do Brasil: “Gente forte, laboriosa e que em absoluto não tem ideias revolucionárias” (Demétrio Magnoli, Uma Gota de Sangue, Contexto, 2009, p. 147).

O Brasil é mesmo feito de uma gente “forte, laboriosa”. Mesmo diante de todas as adversidades, continua firme. Nos grandes centros, acorda às 3h da madrugada para pegar um trem e mais dois ônibus para chegar ao trabalho às 8h. E o salário, ó! Nos finais de semana, ainda tem ânimo para bater uma pelada com os amigos, que ninguém é de ferro.

Apesar de tanta gana, “em absoluto (o brasileiro) não tem ideias revolucionárias”. O governo do PT fez do que fez, e ninguém fez nada. E o povo ainda é obrigado a ouvir do principal responsável pelos aloprados, pelos mensaleiros, pelos destrambelhados do Planalto que nada daquilo que se viu aconteceu de verdade. Era tudo ilusão de ótica.

Dinheiro na cueca, dólares em malas, cheques confirmadíssimos sacados na boca do caixa, tudo documentado pela Polícia Federal, vídeos de pessoas recebendo propina em diversas condições. Tudo isso não passou de mera miragem (tem cacofonia aí?).

Eis que estoura mais um do gênero “mensalão”, o terceiro. Agora no próprio Distrito Federal. Mas Lula já determinou: muita calma nessa hora! Afinal, “os fatos não falam por si”. Todos viram que o homem recebeu a propina, tudo bem. Mas precisa-se apurar se ele recebeu mesmo. Tudo pode também não ter passado de ilusão visual.

E o povo não diz nada. Todos assistem a tudo com os ânimos arrefecidos. Nenhum sinal de revolta. Nem um tiquinho de indignação por parte desse povo “ordeiro”. É possível duvidar que seja isso mesmo que “eles” querem?

A grande imprensa divulgou que o governador José Roberto Arruda (o do painel eletrônico do Senado, lembram?) chegou a pedir ao “lobão” do caso, Durval Barbosa, que se este decidisse entregar toda a tramoia (leia-se, os vídeos), que o avisasse antes para que pudesse optar pela decisão a tomar: fugir do país ou se matar.

Balela. Arrudão sabe que tudo o que fez ficará por isso mesmo. Por que se matar ou fugir do país? Daqui a algum tempo todos estarão falando do caso com os espíritos desarmados, dando boas gargalhadas. O Brasil é assim. Gobineau tinha razão.

(*) Jornalista; autor de Até Quando (2004) e Histórias de Redação (2009); e-mail: [email protected]; blog: www.franciscospid.blogspot.com.

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