J. R. Rodrigues

Feliz marmelada e próspero 2010

O melhor campeonato brasileiro de todos os tempos, o mais incrível, o mais
disputado, o mais nivelado, etc. Todos os adjetivos que pudessem ser
atribuído a competição máxima do futebol nacional eram poucos. “Pudessem”
e “eram” fora da conjugação no presente por que é coisa do passado. O
brasileirão de 2010 terá um fim melancólico, com cheiro de treta, de
marmelada e aqui não falo apenas como torcedor, mas sim como Cidadão que a
partir das posturas de Corinthians (inimigo do São Paulo) e Internacional
(adversário do Grêmio) conseguiram transformar o que seria o modelo de
competição numa mera marmelada, onde as recordações no futuro não serão os
gols e a disputada acirrada, mas sim as entregadas de Ronaldo e Felipe
(Corinthians) e time C por parte do Grêmio, etc.
A única lição que podemos tirar deste brasileirão é que continuamos sendo
um país onde não adianta nada ter caráter se as atitudes daqueles que não
tem essa qualidade sempre valerão mais. O maléfico jeitinho brasileiro
vencerá o planejamento, o clube empresa, a melhor estrutura, os jogos
memoráveis, a série de batalhas, etc. O flamengo que não tem nada a ver
com essa história poderá levar para casa um troféu morno, cinzento, que
será para sempre lembrado como o troféu da arrumação e da entrega.
O pior de tudo é que nenhum dos quatro primeiros colocados (Flamengo,
Internacional, Palmeiras e São Paulo) precisaria de dó, da piedade de
ninguém, muito menos de atitudes, ações e comportamentos condenáveis de
técnicos, dirigentes e atletas que literalmente melarão o campeonato. Os
mesmos personagens que falam de mala branca, mala preta, atuações
suspeitas de juízes etc. e acabam patrocinando uma das páginas mais
tristes do futebol nacional.
Aplauso mesmo só para o Goiás e para as equipes que mesmo rebaixadas
jogaram a penúltima rodada e certamente jogarão a última como se fosse o
jogo da vida de cada um. Enquanto o futebol for tratado como mercadoria
pertencente a esse ou aquele cartola ainda assistiremos muitas cenas
lamentáveis como essas e no futuro não dá para imaginar o que pode
acontecer, Por que as seqüelas das atitudes de Grêmio e Corinthians
certamente não serão esquecidas pelas outras equipes que irão preparar o
troco, mas o mais lamentável é que esse troco, por essa lógica não virá
nos 90 minutos quando a bola correr e sim nos bastidores, nas propinas
pagas aos juízes, nas malas brancas e malas pretas, etc.
É por isso que cada vez mais as pessoas se perguntam se vale a pena
torcer. É uma pena que nem mesmo a FIFA ou a CBF pode fazer algo para
imprimir mais credibilidade a uma competição como o Brasileirão. A FIFA
“faz” uma copa combinada para a França ganhar e a CBF, navegando sempre
dentro de um mar de lama, portanto, não dá para saber se as tretas e
mutretas armadas teoricamente pelos clubes são criações destes ou dentro
de um plano maior arquitetadas pela própria CBF. Tim-Tim para um final
melancólico, combinado, ante-desportivo da competição que ainda é a paixão
nacional.

* jornalista – [email protected]