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EDITORIAL

Dinheiro público usado para pagar contas pessoais


\"\"Liberdade é escravidão!

O Brasil perde um momento propício para fortalecer suas instituições. Plagiando o presidente Lula, “nunca na história desse país” se respirou tanta liberdade como nos dias atuais. Nunca as falcatruas, as puladas de cerca, os deslizes morais e coisas do gênero estiveram tão aflorados como agora.

A lógica – que, infelizmente, muita gente não leva a sério o tanto quanto deveria – arremete para o entendimento raso de que esses momentos são propícios para se fazer mea-culpa. Ao invés disso, o que se vê é a escamoteação, a malfadada prática de jogar o lixo para debaixo do tapete.

Um exemplo está no Legislativo. Isso, para se ficar num só, porque são vários e estouram como câncer em estado de metástase a carcomer as gordurosas carnes do Poder.

A Folha de S.Paulo tem insistentemente publicado estripulias de deputados federais com a verba indenizatória. Mas, afinal, o que vem a ser essa tal verba indenizatória?

Nada mais que uma parcela do dinheiro do povo – em detrimento dos recursos da saúde, por exemplo – que é arrancada a custas de escorchantes impostos, à disposição dos parlamentares para gastarem como bem lhes aprouver, desde que justifiquem com notas fiscais.

Descaradamente, essas notas, quase sempre frias, são emitidas de forma a espantar qualquer cristão-novo – ou velho. Invariavelmente, as notas têm origem em empresas fantasmas, quando não em empreendimentos dos próprios parlamentares, como no caso emblemático do deputado do castelo, Edmar Moreira (MG).

A verba indenizatória, enfim, é dinheiro público usado para pagar contas pessoais como jantares em restaurantes e churrascarias, hotéis em qualquer lugar do país, viagens ao exterior etc., sem que para isso o parlamentar tenha estado em missão oficial ou a trabalho.

Servem para pagar o advogado que defende o deputado das falcatruas em que, desavergonhadamente, se mete e até mesmo os institucionais de jornal com ênfase na propaganda política particular. 

O que mais choca é que as notícias de crimes de malversação, de dilapidação do Erário não são capazes de suscitar indignação na opinião pública. Muito menos no Ministério Público, a quem caberia empreender séria investigação, culminando em punições. 

Ao contrário, o que se vê é a sem-vergonhice sendo patenteada. Não cabe dúvida de que a fórmula é errada. Mas no lugar da punição dos culpados, o que se vê são notas de desagravo muito bem pagas – com a verba indenizatória. O espírito de corpo – ou seria de porco? – sempre fala mais alto. 

O resultado de tudo não poderia ser outro que não o exacerbado sentimento de impotência, a dar razão a George Orwell (1984), quando cita que “liberdade é escravidão”.

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