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DOR MORAL DO BRASIL - Márcio Accioly

Como os políticos acusados se preocupam unicamente com a repercussão do noticiário em seus estados, o senador Romero Jucá Filho (PMDB-RR), também brindado por Fernando Gabeira com os epítetos de "quadrilheiro" e "fazendeiro", não tomou providência no sentido de interpelar o deputado carioca. Melhor não mexer.


O deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), afirmou, na última semana, que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e seus aliados no PMDB (inclusive o senador José Sarney, AP), "fazem parte de uma quadrilha".

Gabeira está sendo ameaçado (até mesmo de morte), por conta de sua insistência em apurar crimes e desvios no escândalo da máfia dos sanguessugas. Veja-se a que ponto chegou o nível moral da vida político-administrativa nacional: os figurões são acusados de desonestos e muitos órgãos da imprensa deixam de publicar.

Foi também na semana passada que o dono da Planam, Luiz Antônio Trevisan Vedoin, em depoimento prestado à Justiça Federal no Mato Grosso, implicou o ex-presidente da República e atual senador, José Sarney. A denúncia aparece na página 31 de depoimento registrado num total de 144 páginas.

Segundo Vedoin, "o servidor Alessandro Vilas Boas", ligado à Telmed Equipamentos Hospitalares e Informática Ltda., empresa que só em 2005 vendeu um milhão, 398 mil e 930 reais ao governo do Amapá, "recebeu propina pelo direcionamento da licitação e da emenda do senador José Sarney".

O valor de uma das emendas do escritor, ex-governador do Maranhão e imortal da Academia Brasileira de Letras foi de 240 mil reais. O ex-presidente é acusado de ter presidido o segundo mais corrupto governo da história do país (ainda existe uma disputa para saber qual o mais corrupto, se o de FHC, 1995-2003, ou o de Dom Luiz Inácio).

Sarney, chamado de "quadrilheiro" por Gabeira, está acionando judicialmente sites e blogs noticiosos do Amapá. Como pretende se reeleger para um terceiro mandato (está no segundo, tendo ido durante o período de congressista apenas duas vezes ao Amapá), não quer que saia nada de desairoso que possa complicar a sua reeleição.

A coligação política de sua excelência (União pelo Amapá) alcançou vitória de Pirro nos últimos dias: censurou os blogs de duas irmãs, Alcinéa e Alcilene Cavalcanti, exigindo indenização milionária. Mas a Justiça amapaense negou provimento à solicitação de retirada do ar.

Prevaleceu tão somente a retirada de foto com caricatura do bigodudo maranhense, colocada num muro da capital, Macapá. A emenda saiu pior que o soneto: a foto correu mundo, em sites da internet e jornais, alcançando divulgação que seria impossível sem a ação judicial.

Como os políticos acusados se preocupam unicamente com a repercussão do noticiário em seus estados, o senador Romero Jucá Filho (PMDB-RR), também brindado por Fernando Gabeira com os epítetos de "quadrilheiro" e "fazendeiro", não tomou providência no sentido de interpelar o deputado carioca. Melhor não mexer.

Com relação a Sarney, o jornal "O Estado de S. Paulo" publicou a denúncia de que estaria envolvido na máfia dos sanguessugas, mas a maioria da imprensa fez ouvido de mercador. Gabeira disse claramente que "a quadrilha" da qual Sarney faz parte tem buscado impedir de todas as maneiras a apuração dos fatos.

O pesado clima de suspeitas que se abateu sobre o Congresso Nacional expõe de forma extremamente negativa as instituições brasileiras e cria clima de desconfiança que leva à possibilidade visível de ruptura institucional.

Se o Exército Brasileiro não tivesse prolongado por 21 anos sua permanência no poder (na intervenção iniciada em 1964), certamente iria intervir agora, mais uma vez, pois o caos se avizinha e apavora a sociedade. Impossível prever desdobramentos de tão deteriorado cenário. Não há como insistir na permanência desses personagens.

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