- 18 de julho de 2025
Francês, meu compadre, era o dono da noite. Da noite e do dia. Farra era com ele. Fosse sinuca, boteco, carteado, pagode, pescaria ou puteiro, o cara tava dentro. À festa de comemoração "dos vinte anos de feliz existência conjugal", Francês chegou atrasado, pois estava nos bares da vida com a canalha. Cidinha, sua esposa, resolveu tomar tenência e levar uma conversa franca com o marido. Após a saída dos convidados, sentou-se com o consorte (o termo dá a impressão de que todos os cônjuges têm sorte) e falou:
- Meu bem..., são vinte anos de casamento... Nossos filhos já são quase adultos... Acho que chegou a hora de você valorizar a nossa convivência e parar um pouco mais
Ante as palavras sentidas e bem colocadas da patroa, Francês comoveu-se e prometeu que mudaria de vida.
Nos primeiros dias, com muita dificuldade, meu compadre virou um homem caseiro: chegava em casa, assistia à novela das sete, emendava pelo Jornal Nacional, jantava assistindo à novela das oito e levava, assim, modorrenta vida de marido exemplar. Viu-se até, em alguns domingos, freqüentando a igreja e participando de encontros de casais.
Mas a vida tem os seus revezes (ou será: uma vez Flamengo, sempre Flamengo?): sexta-feira de feriado prolongado, Francês misturou-se à antiga turma de canalhas e, entre botecos e chopes, pararam num puteiro.
Keyla ficou feliz ao ver seu xodó de volta: largou toda a freguesia de lado e colou em nosso herói para reviver saudosos momentos de amor. Depois de muita cerveja e alguns rabos-de-galo, a quenga arrastou Francês para um dos reservados da casa. Este, destreinado, dormiu depois de saciar as exigências da carne.
Meu Compadre acordou apavorado, às três horas da manhã - "Ai, meu Deus!" -; vestiu-se apressadamente, limpou a remela dos olhos e chispou no rumo de casa. Entrou no quarto, pé ante pé, apanhou cuidadosamente o despertador da mesinha de cabeceira, voltou os ponteiros para a marca das doze horas e, quando ia deitar-se, o galo do vizinho emitiu suas primeiras notas do dia. Cidinha remexeu-se na cama e, meio sonolenta, falou:
- Agora, meu bem...? Que horas são?
- Doze e pouco... - Respondeu o cabra safado, sem querer esticar a prosa.
- Doze, Francês...? E esse galo cantando...?
- Sei lá, Cidinha... Eu acho que esse galo é doido... - Beijou a patroa na testa, abraçou o travesseiro, encobriu-se com o lençol e adormeceu pensando em Keyla.
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