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EDITORIAL - Covardia expressa

É o caso de um "profissional da imprensa" que depois de arrombar a porta da casa da ex-mulher, na frente dos dois filhos pequenos, aplica-lhe tapas e pontapés e lhe diz em tom ameaçador: "Viu (fulana), se eu quisesse te matar te matava agora. Vê se agora tu me respeita!" Ao ser flagrado, alegou que "apenas" aplicou-lhe "uma lição". Terrorismo psicológico pior, impossível!


Em Roraima, no ano passado, foram registradas 6.699 ocorrências de crimes de violência contra a mulher. Só em Boa Vista foram 4.730 casos. As campeãs, as ameaças de morte, com 1.832 queixas registradas.

Lesões corporais (espancamentos) vêm em segundo lugar na preferência dos covardes que gostam de se mostrar "machos" diante do lado mais fraco (por que não procuram o Mike Tyson?). Foram nada menos que 1.115 casos registrados.

Isso, no entanto, não representa a totalidade do problema. Ele é bem mais profundo, haja vista o universo de ocorrências que deixa de ser registrado na Especializada, em razão do medo que invade a mulher agredida.

Bom lembrar que uma mulher que sofre agressões perde o ânimo. Muitas delas - fato já comprovado cientificamente - perdem a autoestima e passam a agir como se a agressão diária fosse algo inerente ao casamento. Principalmente quando é dependente do marido ou companheiro.

A violência doméstica é um fenômeno que não escolhe cor, credo nem classe social. Está presente em todas as classes do tecido da sociedade. Muita gente "boa" - advogados, médicos, juízes, jornalistas e outros - mas emocionalmente desequilibrada aproveita qualquer contrariedade para desforrar - sentar a mão - na pobre da mulher. Muitas vezes, ela nem sabe por que está apanhando.

Geralmente os casos envolvendo VIPs não batem às portas da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher). Afinal, é necessário manter as aparências. Quando escapam do perímetro familiar, aí sim, é um "deus-nos-acuda".

É o caso de um "jornalista" que, certa vez, depois de arrombar a porta da casa da ex-mulher, na frente dos dois filhos pequenos, aplica-lhe tapas e pontapés e lhe diz em tom ameaçador: "Viu (fulana), se eu quisesse te matar te matava agora. Vê se agora tu me respeita!"

Ao ser flagrado em tamanha falta de compostura e profunda covardia, dignas da pena de prisão perpétua, conforme propôs a deputada colombiana citada em coluna de ontem neste Fontebrasil, o indigitado "jornalista" alegou em sua defesa que "apenas" aplicou-lhe "uma lição". Terrorismo psicológico pior, impossível!

Bom lembrar que ainda existem os conhecidos "caras-de-pau". Vivem trocando de mulher como se troca de camisa, e enchem a boca para falar das "mulheres da minha vida". Vida de tapas e chutes. Vida de submissão e ameaças. Vida de humilhação.

Porém, o problema não está só nos desequilibrados e covardes que agridem suas mulheres. Talvez, e pior por isso, esteja nas vítimas que não denunciam as agressões sofridas. Ou, quando denunciam, logo voltam atrás e retiram a queixa. Tornam-se verdadeiras "mulheres de malandro", dando razão ao antológico Nelson Rodrigues, que dizia: "Mulher gosta de apanhar. Você pode não saber por que está batendo, mas ela sabe por que está apanhando!".

No entanto, nem tudo é desesperança nessa seara. É possível que esse quadro mude em pouco tempo. Lei sancionada ontem pelo presidente da República, dá uma guinada de 180 graus no andar dessa carruagem. Agora, quem bater em mulher pode ter a prisão preventiva decretada.

Ao invés de pagar cestas básicas - pena alternativa - e sair lépido e fagueiro, procurando outra para repetir a dose, poderá "tocar piano" na DDM e ser promovido à categoria de hóspede da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo. Por até três anos.

Nada comparável à prisão perpétua, mas, com certeza, impele ao infrator a feliz idéia de contar até dez antes de "amaciar" a mão naquela que um dia foi a "mulher dos sonhos", a "musa inspiradora", aquela que chamava carinhosamente de "meu amor".

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