- 23 de julho de 2025
Por Francisco Espiridião
Francisco Espiridião, o neto, completa nesta terça-feira (08) um ano e dez meses de idade. Dia desses, ele pediu para mamar. A mãe disse, delicadamente:
- Meu filho não mama mais!
Ele repetiu, com a inocência de quem sorve as palavras:
- Não mama mais... não mama mais...
Após refletir por alguns segundos, reagiu de forma agressiva:
- Mama sim, mama sim! Cicico mama sim!
E assim, ganhou o direito de continuar se alimentando direto da fonte, no restaurante ambulante e aconchegante, o colo da mãe.
Parece que a enxurrada de informações que recebemos diariamente é tão grande que não nos dá tempo de deglutir o seu real significado. Já não é mais possível fazermos uma reflexão acurada sobre o que seja a morte diária de cerca de 40 iraquianos, em média, numa guerra besta, imunda e sem sentido.
Não dá mais para parar e digerir com paciência o que seja a guerra de Israel contra o Líbano, outra bestialidade deste iniciante século 21, onde crianças, velhos e mulheres indefesas são estraçalhadas por morteiros, sem saber sequer a razão.
A avalanche de informação nos pega tão desprevenidos que não permite que pensemos e meçamos a verdadeira dimensão do que sejam os tsunâmis que avassalam regiões inteiras da Indonésia, por várias vezes, deixando milhares de vítimas alijadas de pai, mãe, filhos...
A carga de informação que recebemos diariamente é tão grande e nos chega como se fosse artigo enlatado, sem qualquer significado humano, a ponto de não nos impingir nenhuma emoção diante do grotesco. Calejamos. Perdemos a capacidade de indignação.
Aliás, não é só a carga de informação que nos torna "cyborgs". O mundo gira numa celeridade tal que não permite mais que façamos uma simples averiguação nos cadernos de nossos filhos. Deixamos essa tarefa com a professora. Como se ela os tivesse carregado no ventre.
E o tempo passa. Um dia descobrimos que nossos filhos cresceram. E bom mesmo é quando essa descoberta não nos vem através de um telefonema de um Distrito Policial qualquer, onde eles se encontram, detidos, por terem sido flagrados em algum cabeludo delito.
Aí, seremos obrigados a arrumar tempo para entender o mundo que nos cerca. Oxalá não seja tarde demais. Teremos desperdiçado o tempo de refletir se ainda mamamos ou não.