- 23 de julho de 2025
No dia 13 de outubro de 2002, enquanto o país deglutia o resultado do pleito recém concluído, exceto para governadores e presidente da República, o Jornal do Brasil publicava matéria sob a responsabilidade da jornalista Denise Lima. Uma análise da composição da nova bancada do Congresso. A novidade, o número de evangélicos eleitos.
"Numa guinada à esquerda, eles (os evangélicos) estão mais progressistas e identificados com as causas sociais. A maioria foi eleita pelos partidos de oposição ao governo Fernando Henrique Cardoso, PT, PL, PDT, e PSL.", escrevia a repórter, explicando que a bancada evangélica havia crescido 25%, somando 60 deputados eleitos, entre eles cinco bispos e 20 pastores.
O então representante da bancada evangélica na Câmara, o Bispo Rodrigues (PL-RJ), declarou à repórter do JB, de forma categórica: "Todos estão cansados de ideologia. Da separação esquerda e direita. A população quer saber como serão resolvidos os problemas do transporte, educação, saúde, como será reduzida a miséria. Por isso vamos adotar uma nova forma de fazer política. Trata-se do socialismo de resultados."
Socialismo de resultados... Triste memória. O impoluto Bispo Rodrigues, enlameado pelo escândalo do mensalão, foi excluído da igreja Universal do Reino de Deus, passando a chamar-se deputado Carlos Rodrigues. Depois, por temer a cassação e ficar inelegível no pleito ora em andamento, renunciou ao mandato. O socialismo de resultados que pregava, parece, visava o próprio bolso.
Outros evangélicos de peso em suas denominações, também fisgados pela usura, embarcaram na canoa do lucro prático e rápido, sendo, da mesma forma, maculados pela máfia do mensalão. Entre eles, os deputado Vandeval Santos (PL-SP) e o bispo da igreja Universal João Batista Ramos da Silva (PFL-SP). Este último, preso em Brasília com um carregamento de R$ 10 milhões de reais distribuídos em sete malas.
O jornalista Fernando Bonassi, da Folha de S.Paulo, escreveu na época: "A mala de dinheiro fará os paralíticos levantarem, os cegos enxergaram e os políticos trabalharem! Garantirá carro com chapa fria, assessores com costas quentes e dois recessos anuais remunerados a todos os mortais desempregados! As malas de dinheiro encherão o saco da felicidade! Por onde passa, a mala de dinheiro deixa o ar de sua graça, desgraça. E para cada mala de dinheiro, há milhões de carteiras vazias...".
É lamentável que homens de Deus, ao chegarem ao Congresso, tenham se deslumbrado a ponto de se deixarem levar pela esbórnia. Tudo por falta de entendimento.
A Bíblia diz: "Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão" (1 Timóteo 6.10-11).
Muitos deputados da bancada evangélica (19 deles envolvidos só com a máfia dos sanguessugas), esqueceram o ideal descrito pelo ainda imaculado Bispo Rodrigues, em 2002, e, ao invés de seguir o conselho que o Apóstolo Paulo deu a Timóteo (foge destas coisas), correram para cima do objeto do pecado. O amor ao dinheiro falou mais alto que o amor à Palavra de Deus. É o cinismo do evangélico. Uma pena.