- 23 de julho de 2025
Há quem acredite que a guerra civil no Brasil ainda não foi deflagrada. Como há quem acredite em duendes, gnomos e sacis-pererês. Tudo é possível. Que seria da existência, não houvesse a possibilidade do sonho? Vivemos num circo de horrores, mas existe sempre espaço renitente em nossa mente, dedicado à fantasia.
Num país cuja miséria se alastra, vai-se descobrindo tardiamente que a raiz de todos os males ficou fincada lá atrás: na questão da escravatura. Que foi abolida (1889), mas não houve qualquer integração dos infelizes arrancados da África. Aos "libertos", negou-se tudo: educação, integração e participação nas atividades sociais.
Isolados em guetos (favelas), seguiram a orientação bíblica do "crescei e multiplicai-vos!" E não fizeram outra coisa. Proliferaram à vontade, como preás.
Nas diversas Regiões, para onde vieram e na qual nasceram escravos, continuaram lacaios. Tentando ultrapassar barreiras e obstáculos na luta desigual pelo pão de cada dia. No Nordeste, onde se lançaram as bases da economia nacional (com o ciclo da cana-de-açúcar), os excluídos continuam à margem da divisão do bolo.
Na gestão presidencial do único governante a merecer tal título (o de presidente), Getúlio Vargas (1930-45), sedimentou-se o caminho das classes médias, a proteção dos que migravam para as cidades, mas nada se fez para os que permaneceram no campo.
Os governantes que sucederam Vargas nada fizeram que reparasse a falha. Pelo contrário: o sociólogo boca de tuba, FHC (1995-2003), expressou com orgulho o fato de ter, segundo suas próprias palavras, "acabado com a Era Vargas". Que farsante!
Se no Brasil nada se fez no sentido de reverter caminho (do campo para a cidade), cuidou-se de destruir o pouco realizado nas áreas urbanas, estabelecendo-se o caos. Quem haverá de fazer regredir tal quadro, quando a atividade política está infestada de analfabetos assaltantes desorientados?
As classes médias estão sendo esmagadas e a única cantilena que se ouve é a de que "é preciso matar Marcola e os que estão presos". Como se elas próprias, as classes médias, não se encontrassem reféns dos desmandos praticados pelos que ocupam cargos públicos (especialmente os eletivos), bucaneiros insensíveis e impunes.
A questão não é eliminar Marcola nem os prisioneiros cuja quantidade se amplia com rapidez em masmorras medievais. A questão é resolver o problema agrário de um país riquíssimo, mas direcionado ao fracasso pela impunidade e corrupção. Com um presidente deslumbrado e omisso, a cuidar apenas de preservar mordomias e vantagens.
Diante do escabroso cenário, passou quase despercebida matéria do jornal A Crítica (AM), publicada no último domingo (16), mostrando que os adolescentes do bairro Mauazinho (periferia de Manaus), "expressam, em trabalhos escolares, admiração pelo traficante mais conhecido do bairro".
O assunto rendeu, inclusive, editorial à página A4 do próprio jornal ("Os Heróis da Juventude"), preocupado com a projeção alcançada por bandidos que servem de modelo e inspiração a estudantes pobres dos locais onde vivem dezenas de milhares de pessoas de baixa renda.
E que exemplo pode ser apresentado a esses jovens, num instante em que a vida política brasileira expõe a Câmara de Deputados abarrotada de mandatários envolvidos nas mais diversas modalidades de assaltos aos cofres da coletividade?
Onde estão as promessas de investimento e desenvolvimento, cifras que alcançaram a projeção de oito milhões de vagas na gestão FHC e cerca de dez milhões de novos empregos na administração Dom Luiz Inácio? (continua)
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