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EDITORIAL - Estatísticas do terror

Talvez nada ocorra porque a vítima ainda não foi, até agora, um filho ou uma filha de autoridade. Nenhum parente de algum "super-herói de capa preta" que demonstra força e poder na hora de passar seus dependes na frente de outros simples mortais em filas para embarque em avião. Aliás, super-herói desse gênero é outra ignomínia a envergonhar Roraima, terra tão achincalhada por "autoridades" irresponsáveis.


O taxista José Roberto Souza Gomes foi morto por asfixia mecânica (afogamento), conforme consta do laudo cadavérico divulgado pelo IMOL (Instituto Médico e Odontológico). O crime ocorreu na quinta-feira da semana passada. Foi encontrado enterrado, nu, em cova rasa, nas proximidades do igarapé Aí Grande, na BR-174, a onze quilômetros do Posto da Polícia Rodoviária Federal, na saída para Mucajaí. Os suspeitos do crime são policiais civis.

No ano passado, um pedreiro, algemado, foi morto dentro de uma viatura da Polícia Civil. Dias depois, um policial militar atira para cima, para dominar um princípio de tumulto numa ocorrência, e mata um adolescente de 16 anos que, da varanda de uma pizzaria, assistia o que poderia ser uma simples intervenção policial diante de uma briga de bar.

Até quando a sociedade terá que suportar tamanhas tragédias, praticadas por quem tem, pelo menos em tese, a responsabilidade de lhe dar segurança? A Polícia, que tem a responsabilidade constitucional de oferecer proteção ao cidadão, ceifa-lhe a vida. E pior. Mata e nada acontece.

Talvez nada ocorra porque a vítima ainda não foi, até agora, um filho ou uma filha de autoridade. Nenhum parente de algum "super-herói de capa preta" que demonstra força e poder na hora de passar seus dependes na frente de outros simples mortais em filas para embarque em avião.

Aliás, super-herói desse gênero é outra ignomínia a envergonhar Roraima, terra tão achincalhada por "autoridades" irresponsáveis que visam o próprio bem estar, em detrimento do bem público, da decência e da ordem.

Vivemos momento sugestivo. Preâmbulos de nova eleição. Momento em que a população vai escolher seus governantes, aqueles que vão dar a cor e o ritmo do destino do estado. Momento propício para voltarmos a bater na mesma tecla: a falta de renovação de quadros na política local.

Isso fica mais que comprovado nos nomes que se apresentam como candidatos favoritos. Os mesmos de 16 anos atrás. Ou seja, não se trabalhou a questão da evolução no campo político local. Ao votar, no dia 1.º de outubro, o cidadão roraimense terá que se render à mesmice.

Um dos dois candidatos favoritos é recheado de denúncias de corrupção e de traquinagens as mais diversas com o dinheiro público. O outro, nepotista todo, de método ultrapassado, vive num tempo que não existe mais. Com a vantagem de, pelo menos, não carregar sobre os ombros as suspeitas de ser um ladrão a mais.

Um terceiro candidato - sem qualquer chance - é político por um acidente de percurso. Não sabe o que realmente faz ou devia fazer nesse latifúndio. Não sabe sequer o que dizer para convencer alguém de que quer ser governador. Sem dúvida, a escolha será das mais difíceis, senão cruciais.

Mais fácil seria que, nesse ínterim, entidades ativas da sociedade civil organizada - OAB, por exemplo -, e os Ministérios Públicos Estadual e Federal, além da própria imprensa, acompanhassem mais de perto a situação em que o estado vive.

Clima de insegurança e desleixo com o erário público são fatos corriqueiros na terra de Makunaima. Cuidado maior seria o mínimo esperado das autoridades constituídas. Sob pena de, mais tarde, serem elas próprias ou seus dependentes as próximas vítimas a engrossar as estatísticas do terror.

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