- 23 de julho de 2025
Sei que não posso assumir novo emprego público. Mas sou teimoso. Vivo me metendo nessas. Passei no concurso estadual para jornalista, em 17.º lugar. Eram ofertadas 30 vagas. Convidado, aceitei de pronto o Cargo Comissionado na Coordenadoria de Imprensa da UFRR. Trabalhei uma semana e meia. Na hora da contratação, a Portaria de nomeação não se concretizou. Choque no Siape.
Mesmo sabendo da impossibilidade de efetivação, participei do último concurso público para professor do Curso de Comunicação Social da UFRR. Fiz meio de farra. Para inchar o número de concorrentes. Oferecida apenas uma vaga, esta ficou com o colega Edileuson Almeida, Mestre em Comunicação Social pela USP. Honras merecidas.
Diante da banca examinadora do concurso, fugindo do tema principal, explicava alguma coisa sobre a forma de conduta da imprensa roraimense, na qual o jornalista vive engessado, sem liberdade para expressar aquilo que tem como nítida verdade dos fatos. Razões para isso, as mais diversas. Quem é do meio conhece bem.
Uma hora o assunto bate de frente com os interesses políticos dos donos. Sim, os veículos de comunicação em Roraima - como no resto do país, em sua maioria - são propriedades particulares de políticos que, como tal, não querem e não admitem ter os interesses arranhados. Em outra, fere suscetibilidades de terceiros que lhes são caros. "Fulano é meu amigo. Não fale mal dele no meu jornal". Enfim, a verdade explícita nas páginas do jornal é sempre aquela que mais convém aos donos.
Enquanto falava disso, uma professora da banca, então, me pergunta: "O que se pode fazer para melhorar esse quadro?" O que poderia eu responder? Disse seca e friamente: "Não sei!". Disse também que se a questão fosse de fácil solução, alguém já a teria encontrado. Não seria eu que iria descobrir a roda.
Exigir altruísmo dos donos dos jornais a ponto de acreditar em utópica benevolência, desprendimento de espírito ou algo parecido, é andar numa estrada tortuosa e mais esburacada que as ruas de Boa Vista. Impraticável! Aí vem aquela história: quer escrever o que você pensa, monta um jornal para você! Já ouvi muito isso em redação. E, do alto de minha boçalidade, já disse, também.
A questão da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) dominando um estado é dilema bem parecido. E veja que não se está aqui falando de qualquer estado. Trata-se do maior e mais desenvolvido do país. Será que os governantes - federais e estaduais - são tão incompetentes quanto eu diante da sinuca de bico em que me vi metido às expensas da professora e irmã em Cristo Gorete Leitte?
A inércia e a perplexidade das autoridades parecem mostrar que cada uma delas está dizendo: "Não sei!" (o que fazer para barrar a hegemonia do crime diante de uma população aflita e temerosa). O PCC está agora atacando "a salteado", conforme cita o jornalista Sebastião Nery, em sua coluna do jornal Tribuna da Imprensa (RJ), de hoje.
A facção criminosa já não tem mais um alvo definido. Tudo que encontra pela frente é passível de ataque. Ônibus - queimados às dezenas -, casas de policiais, agências bancárias, carros, caminhões, shopping-centeres. Qualquer coisa serve para demonstrar seu poder de fogo. A ameaça agora é provocar blecaute na grande metrópole, através de ataques a redes e estações elétricas. A Eletropaulo que se cuide.
As autoridades sabem quem são os generais do tráfico. Isolá-los seria a solução? Falta de local não é mais desculpa. Há uma prisão federal, de segurança máxima, prontinha. Cheirando a tinta. Em Catanduvas, no oeste do Paraná. Inaugurada e reinaugurada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no mês passado, até agora, nenhum inquilino sequer.
O principal chefão do crime, Marcos Herbas Camacho, o "Marcola", deixou claro em seu depoimento prestado à CPI das armas, esta semana, em Presidente Bernardes (interior de São Paulo), quem realmente manda nos presídios. É o PCC quem impõe sua própria disciplina ao sistema carcerário do estado.
Nas páginas 26 e 27 do depoimento, Marcola afirma aos parlamentares que a facção proibiu o uso do crack e o homossexualismo entre os presos. Disse mais. As decisões foram adotadas após consultas - espécie de workshop virtual - feitas a presos de vários estabelecimentos, por meio de telefones celulares.
Isolar os cabeças do PCC em Catanduvas, por certo, não será a solução. Logo-logo, surgem outros Marcolas. Com tamanha ou maior liderança. Uma coisa é certa: o país não pode prosseguir sob o domínio do medo imposto por facções do crime organizado. Seria a falência do Estado. Funciona como uma epidemia. Focos vão surgir nas demais unidades da Federação.
Nesse ritmo, em breve estará em vigor no país não o falido e ultrapassado modelo de luta de classes de Marx, que o PT tenta a todo custo ressuscitar. Mas o regime da degenerescência. Estará declarada a anarquia, regime em que não se reconhece qualquer regra imposta pelo Estado na organização do tecido social. O caos. E isso nenhum de nós deseja!
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