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Crônica do Aroldo - DESABAFO

Rapaz, eu me sacrificava e ia todo santo domingo ao forró do Sacolejo: eu, ela e a turma dela. Como eu sofria com aquele forrozinho safado... Eu gostava tanto daquela menina que até arriscava uns passos naquele nheco-nheco sem fim. Às quartas-feiras ela sempre ia com seus colegas do EJA para o Haras...


- Ei, cara..., o que houve? Porra, tu tá muito magro... Que foi isso? Chifre? - A intimidade entre ambos permitia aquele tipo de brincadeira.
- Que chifre o quê, rapá? Eu sou lá homem de pegar chifre? Tou malhando, caminhando e tou fazendo uma dieta lascada. Já perdi mais de 10 quilos!  
- E aquela morena, a Aninha? Tu ainda tá com ela?
- Que nada... Essas mulheres são muito burras... Olha que eu me entreguei todinho pra ela... Botei os dois meninos dela na melhor escola da cidade e vinha pagando as despesas básicas da casa: aluguel, luz, água, telefone, internet, celular, academia... Inda dava um adicionalzinho para o cabeleireiro, uma roupinha, essas coisas... Aninha é uma toupeira: burra demais! Eu tinha até vergonha de receber as mensagens que ela me mandava pelo celular... Acredita que na última ela escreveu "priciso de dinheiro"?!? Assim: priciso com i... Eu me sentia constrangido ao apresenta-la aos amigos: quando a mulherzinha abria a boca, só saía merda... Fiz até a matrícula dela no EJA pra ver se ela melhorava o nível... Acredita que uma vez eu levei Aninha lá em casa e ela, abismada com a minha cedeteca, fez uma pesquisa rápida nos meus cds e sabe o quê que ela falou?  "Num tem nada de Chitãozinho e Xororó..., nada de Bruno e Marrone..., nada da Wanessa Camargo... Tô achando que nosso gosto musical não combina." Ao ver os meus livros, ela fez pouco caso: "Vixe. Tô fora desse negócio de literatura!" Rapaz, eu me sacrificava e ia todo santo domingo ao forró do Sacolejo: eu, ela e a turma dela. Como eu sofria com aquele forrozinho safado... Eu gostava tanto daquela menina que até arriscava uns passos naquele nheco-nheco sem fim. Às quartas-feiras ela sempre ia  com seus colegas do EJA para o Haras... Tu sabes que eu detesto música sertaneja, daí eu deixava que ela fosse e se divertisse... Afinal ela tem 29 anos; eu 64.  De repente..., de uns seis meses pra cá..., eu comecei a ver que a coisa não ia dar certo... Resolvi dar um tempo pra ver como ia ficar... Ela sempre ia pro Haras com um primo dela, o Domingão... Por algumas vezes ela dormiu fora me dizendo que o primo tava sem condições de dirigir e, por medo de acidente, tinha resolvido pousar na casa da tia... Eu já andava desconfiando daquele negócio, dei as contas dela e tou indo à luta. Não quero saber de compromisso, comigo agora é só ficar... - Subitamente, pousou a mão sobre o ombro do amigo e, com os olhos cheios de lágrimas, desabafou - Zé, tu sabes que eu confio em ti pra caramba. Vou te contar um negócio..., mas, por favor, não fala pra ninguém: aquela safada tava me chifrando com o primo: sangue do sangue dela... Eu tenho sofrido muito por aquela menina... Zé, por favor, num fala pra ninguém... Esse assunto fica só entre nós, tá?

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