- 29 de outubro de 2024
BRASÍLIA - Em vez de provocar discursos escandalizados na oposição e irritar o eleitor, a troca de cargos na administração pública por apoio no Congresso deveria ser entendida como parte do jogo entre partidos e governantes.
Em maior ou menor grau, o clientelismo -tido como a barganha de cargos e a liberação de verbas para aliados e suas bases eleitorais- é uma característica dos sistemas políticos como o nosso, em que o presidente da República concentra poder e precisa do apoio de mais de um partido para governar.
As alternativas se resumiriam a negociar no varejo, voto a voto, ou com estruturas partidárias. Cargos isolados ou áreas inteiras da administração.
O problema não é o PMDB ganhar mais espaço na Esplanada dos Ministérios, empresas estatais e adjacências do poder, como fez nos acertos que precederam a disputa da reeleição por Fernando Henrique Cardoso e, agora, por Lula.
Mais relevante é transparência dos acertos e a qualidade das políticas públicas produzidas sob tais alianças.
O famoso disquete em que o ex-secretário-geral de FHC Eduardo Jorge guardava o mapa dos padrinhos dos ocupantes de cargos públicos nunca foi tornado público. Lula contribuiu menos para tornar o jogo transparente.
Pior é a tolerância nos últimos anos com desvios de padrinhos e apadrinhados no trato com políticas e verbas públicas.
Às vésperas de o escândalo do mensalão estourar, Lula mantinha prestigiado o então ministro da Previdência, Romero Jucá, investigado exatamente por desvio de dinheiro público.
Sem abalos no prestígio, o senador deixou o posto na reforma ministerial e virou líder do governo. Um ano depois, dá palpite nas indicações da crescente cota do PMDB no poder.