EDITORIAL - Principal combustível para traquinagens

"Diante do sistema judicial em que vivemos, o melhor que pode ocorrer para o político corrupto é sofrer processo judicial, pois com a lentidão que se vive nos tribunais, muitos acabam nem sendo julgados". A citação acima não foi dita por qualquer leigo que esteja, de certa forma, desiludido com a Corte de Justiça brasileira em razão de ter seus interesses protelados a não poder mais. Trata-se de profundo desabafo do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, um dos principais operadores da Justiça no país. . Apesar de parecer algo descabido, trata-se da mais pura verdade. Com a lentidão própria da preguiça (o animal), o Judiciário brasileiro acaba sendo, sem querer, inócuo diante de certos julgamentos envolvendo nomes não menos importantes. Por questão de dois dias, por exemplo, o juiz Nicolau "Lalau" dos Santos Neto, aquele que espoliou recursos do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, não ficou impune de todas as acusações que lhe pesavam sobre os ombros. Quase ele consegue. Já o governador Ottomar Pinto teve mais sorte. Em situação complicadíssima com a Justiça, por causa do famoso "Caso da Cobal" de recente memória, livrou-se do risco de ser condenado e até preso. Tudo por conta da idade avançada. Veja que o suposto crime ocorreu quando ele nem tinha 60 anos. Outro nome, o maior deles: senador Romero Jucá. Responde a um rio de processos que, a seu pedido, corre em sigilo de Justiça. Romero não permite que a imprensa ou que o seu próprio eleitor tome ciência das falcatruas de que lhe acusam. E olha que não se trata de representação feita por cidadãos comuns, não. Quem acusa em quase todos os processos que o senador responde é o Ministério Público Federal e o Banco da Amazônia (Basa). Entidades acima de qualquer suspeita diante da Sociedade. A Justiça lenta, complicada, caríssima e em alguns casos, inócua, só pode beneficiar mesmo políticos traquinas, que usando os poderes que têm - político e econômico - deitam e rolam. Fazem a festa. Enquanto se divertem e riem às nossas custas, a gente continua trabalhando para pagar tantos e pesados impostos. O pior é a constatação de que os impostos são depositados, via de regra, em saco sem fundo. Escoam pelo ralo, digo, para os bolsos de espertalhões de gravata e paletó, acobertados pelo célebre clichê: "Você sabe com quem está falando?". Isso tudo por conta da certeza da impunidade. A morosidade da Justiça é o principal combustível para tais estripulias. Lamentável!