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NA MESMA TECLA - Márcio Accioly

Somos um país dirigido por calhordas! E é preciso que se tomem providências, antes que seja tarde demais. Se o crime está liberado nas altas esferas, não é justo que se prendam bandidos comuns, os classificados como "ladrão de galinha".


Brasília - É impressionante como assuntos que deveriam ser encarados com a maior seriedade são levados na galhofa e empurrados com a barriga sem a menor responsabilidade. Passado o momento mais grave de cobrança, a maioria esquece de seus deveres e é como se nada estivesse acontecendo.
No ano passado, no auge da crise do mensalão, eis que Dom Luiz Inácio (PT-SP), nosso amável beberrão, dirigiu-se à população brasileira, em rede nacional de TV, e disse que se sentia "traído" (sem dizer por quem), nas revelações diárias de corrupção praticada por membros de sua legenda.
Muitos meses depois, o procurador-geral da República denunciou 40 dos integrantes da equipe administrativa montada por sua excelência, indiciando-os por "formação de quadrilha", numa lista encabeçada pelo ex-ministro-chefe da Casa Civil Zé Dirceu (PT-SP).
O ex-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, José Genoíno (SP), depois de envolvido nos mais inexplicáveis desmandos, viu um assessor de seu irmão, deputado estadual José Nobre (PT-CE), ser preso no aeroporto de Guarulhos (SP), com cerca de 350 mil reais em dinheiro e cem mil dólares escondidos na cueca.
O então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, denunciado em comprovada roubalheira nas duas gestões como prefeito de Ribeirão Preto, freqüentava uma casa alugada no Lago Sul (área nobre de Brasília), onde mantinha contatos com lobistas e atendia interesses escusos de amigos e cúmplices.
Palocci, com quem Dom Luiz Inácio diz ser "unha e carne", foi obrigado a cair fora do Ministério, depois de patrocinar a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, o qual confirmou em depoimento tê-lo visto algumas vezes na "Casa do lobby". Fato que sua então excelência negava com veemência.
Agora, com a redução do calor das ocorrências, eis que denunciados, traído e traidores retomam a mesma desmoralizada cantilena, concorrendo às eleições de outubro próximo com a tranqüilidade de quem cumpriu o dever.
Somos um país dirigido por calhordas! E é preciso que se tomem providências, antes que seja tarde demais. Se o crime está liberado nas altas esferas, não é justo que se prendam bandidos comuns, os classificados como "ladrão de galinha".
Se a maioria dos envolvidos em fatos escabrosos acha-se no dever de continuar dando as cartas, é preciso que se recorra ao princípio de igualdade (Constituição Federal), permitindo-se que os Fernandinhos Beira-Mar e similares possam também se habilitar à conquista de mandato eletivo que lhes conceda impunidade merecida.
Se o ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha, bem como o professor Luizinho e José Mentor (para ficar nesses exemplos), todos pertencentes ao PT de São Paulo, pretendem renovar seus mandatos de deputado federal, por que não permitir a habilitação de alguns outros detentores do mesmo nível de periculosidade?
Será que os que se encontram encarcerados oferecem risco maior? Ou a proibição é criada apenas em função do receio com a concorrência?
O próprio Palocci já declarou, através de interlocutores, que pretende ser candidato mais uma vez à Câmara Federal, pois dessa forma ficará livre de maior constrangimento na esfera judicial.
E apesar desse cenário que aterroriza e põe a nu os principais problemas do Estado brasileiro, os integrantes do crime organizado (instalados na máquina oficial) pensam em se perpetuar no saque aos cofres públicos e na desordenação institucional.

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