"Não temos medo de comparações. Chega de bazófia, de garganta. Esse presidente fala muito e deixa para os outros fazerem. Falar, isso ele sabe", criticou. "Eu quero contrastar o meu governo com o atual. É muita publicidade, muita propaganda e muita viagem para nada."
Geraldo Alckmin é saudado ao discursar na convenção do PSDB que homologou a candidatura de Serra ao governo do estado de São Paulo
Na convenção do PSDB que homologou ontem a candidatura de José Serra ao governo de São Paulo, líderes tucanos fizeram duras críticas à administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A gestão petista foi taxada de "corrupta" por vários líderes do PSDB, entre eles Serra, o presidenciável Geraldo Alckmin e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os três chegaram ao prédio da Assembléia Legislativa caminhando em meio aos militantes, acompanhados do governador Cláudio Lembo e do prefeito Gilberto Kassab, aliados pefelistas. Segundo FHC, Lula hoje "cacareja sobre ovos postos por outros". O ex-presidente fez a afirmação ao se referir a iniciativas de seu governo que estariam sendo assumidas pelos petistas.
"Eles estão tapando buracos que fizeram em estradas construídas por nós. E não fizeram um quilômetro de estrada nova", comentou FHC, depois de citar realizações em outras áreas, como saúde, energia e reforma agrária. "Não temos medo de comparações. Chega de bazófia, de garganta. Esse presidente fala muito e deixa para os outros fazerem. Falar, isso ele sabe", criticou. "Eu quero contrastar o meu governo com o atual. É muita publicidade, muita propaganda e muita viagem para nada."
Fernando Henrique lembrou a promessa de Lula de criar 10 milhões de empregos. "Agora, são quatro (milhões). E se esquecem de dizer que parte desses quatro milhões é de emprego informal que se formalizou", observou. Afirmou ainda que os tucanos não foram às ruas para dizer "que éramos os únicos éticos", como fez o PT. "Mas ainda ontem o presidente veio dizer: 'vamos esperar a palavra da Justiça e, enquanto ela não vem, nós somos todos iguais. Mas, eu não. Eu não sou igual a essa gente, não".
Na opinião do ex-presidente, o PT ficou marcado pelos escândalos. "A esperança que esse governo levantou foi corroída como cupim pelo desmazelo, pela corrupção, pelos escândalos e pelo desrespeito à democracia. Foi um tipo de governo do eu, eu, eu. Vai ver nas urnas o que vai acontecer com esse eu, eu, eu", acrescentou.
Alckmin também bateu duro. Rebatendo críticas de Lula de que o PSDB representaria as "vozes do atraso", disse que política de atraso "é o que vemos no Brasil". O atual governo, para ele, tem "uma visão patrimonialista e de aparelhamento de Estado" e só investe em publicidade. "Não existe o Fundeb (Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Básico). Não existe a transposição do São Francisco, a Transnordestina e o Fome Zero. Só na propaganda. Mas aprendi com meu pai que a mentira tem perna curta", afirmou.
Serra disse que encontrará no governo "as finanças arrumadas e muitos investimentos sendo feitos", graças "à herança de Covas (falecido governador Mário Covas), Alckmin e Lembo". Mas também seguiu na mesma linha de críticas a Lula e ao PT. "Não temos do que nos envergonhar. Não mudamos de lado, de cor, de cara. Diziam que sou mal-humorado. Mas eu só tenho uma cara", afirmou, atacando mudanças de posições do PT no governo.
"Os petistas, os vestais do templo da moralidade, se defendem das acusações dizendo que todos os políticos são iguais. Isso é falso como uma nota de três reais", disse Serra. Para se diferenciar, o ex-prefeito paulistano afirmou que o tucano - o pássaro que se tornou símbolo do PSDB - não tem afinidade com lama. "Tucano não gosta de lama. Tucano voa e está mais próximo do amarelo das flores e do azul do céu", afirmou.
Desorganização A chegada de Alckmin, Serra e Fernando Henrique Cardoso foi marcada por um grande tumulto, com empurra-empurra e reclamações de políticos e de jornalistas que discutiam com policiais, porque eram impedidos de entrar na Assembléia Legislativa. Fernando Henrique quase foi derrubado, já dentro do prédio, e o secretário das Subprefeituras de São Paulo, Andréa Matarazzo, caiu no meio da confusão. Não houve entrevista coletiva e, segundo tucanos, Serra não queria falar à imprensa.