- 29 de outubro de 2024
Folha de S. Paulo
Apoiada pela bancada de seu partido, a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), afirmou ontem que não há irregularidades em sua movimentação financeira entre 2003 e 2005, que chegou a ser cinco vezes maior que seu rendimentos. O corregedor do Senado, Romeu Tuma (PFL-SP), afirmou que vai investigar o caso.
A senadora tomou posse no primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva, quando o dinheiro movimentado em suas contas aumentou de R$ 218 mil para R$ 477 mil, segundo documentos da Receita Federal divulgados ontem pelo jornal "Correio Braziliense". Segundo a reportagem, em 2004 e 2005, ela teria movimentado cerca de R$ 1 milhão.
A senadora recebeu a solidariedade da bancada do PT, que divulgou uma nota de apoio. "Isso é futrica. Se tem ilicitude, processe", desafiou Ideli e exigiu que a Receita faça um pente-fino em suas contas e lhe dê "atestado de idoneidade".
Sem apresentar documentos, Ideli justificou as operações com a tomada de três empréstimos na Caixa, no Besc (Banco do Estado de Santa Catarina) e no Banco do Brasil, que teriam somado cerca de R$ 250 mil.
Dois deles foram feitos para pagar outdoors com propaganda da duplicação da BR-101 e outro para "compromissos pessoais, de ordem familiar", diz ela. A senadora nega que tenham sido contraídos para o PT e afirma que foram declarados no Imposto de Renda.
Nesse período, o publicitário Marcos Valério tomou empréstimos de R$ 55 milhões no Banco Rural e ao BMG e os repassou ao partido. Segundo a CPI dos Correios, o esquema foi montado para mascarar as fontes do mensalão.
O salário de Ideli é R$ 12.720, mais R$ 3.800 de auxílio-moradia e verba de R$ 15 mil para despesas com o escritório. Ela disse que vendeu dois veículos no período. A senadora questionou o vazamento de documentos sigilosos e atacou o procurador da República Celso Três, que teve acesso a sua movimentação financeira em investigação sobre irregularidades na duplicação da BR-101.
Três disse à Folha que vai entrar com ação contra a senadora, por improbidade administrativa, por associar sua imagem a uma obra pública, por meio dos outdoors. O procurador estranhou a explicação da senadora, de que tomou empréstimos. Segundo ele, quando foi instaurado o inquérito, no ano passado, ela informou apenas um empréstimo de R$ 80 mil, na Caixa.