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LIÇÕES DE UM MESTRE - Márcio Accioly

Juízes do TRE deveriam saber que, a Transparência Brasil, uma organização fundada no ano 2000, divulgou manifesto na segunda-feira (19), convocando a população a "não votar" em candidatos identificados como congressistas "mensaleiros, sanguessugas e implicados em outros escândalos". O TRE precisa se informar mais e melhor sobre a realidade que legisla para apenas fazer justiça e não cometer erros.


Dia desses, o senador Romero Jucá Filho (PMDB-RR) me processou, alegando "propaganda eleitoral negativa antecipada", porque escrevi neste espaço que o eleitor deve refletir com profundidade, no dia das eleições, antes de votar em candidatos envolvidos em falcatruas, desvios de recursos públicos e outros abusos.

Fui absolvido em primeira instância, mas sua excelência recorreu. O fato é que não pretendi me referir diretamente ao senador Filho, mas a todos aqueles, candidatos à reeleição ou não, que ostentem currículo, digamos assim, impossível de ser defendido.

Pois bem: a Transparência Brasil, uma organização fundada no ano 2000, divulgou manifesto na segunda-feira (19), convocando a população a "não votar" em candidatos identificados como congressistas "mensaleiros, sanguessugas e implicados em outros escândalos".

O texto destaca o perigo existente na recondução de parlamentares que respondam a processos judiciais. A notícia foi registrada de imediato em diversas páginas da internet, inclusive no blog de Josias de Souza (Folha de S. Paulo).

Cá fiquei a pensar com meus botões, a respeito do enorme trabalho ao qual certamente a equipe jurídica que atende ao ilustre senador irá se dedicar, tendo em vista o cipoal de publicações que sua excelência, por dedução lógica, irá acionar em juízo.

Ora, vejam só a que triste situação estamos sendo todos nós conduzidos neste nosso desmoralizado país. Alcançamos agora o estágio da tentativa de proibição de se dizer que não se deve votar em pessoas acusadas de malversação do dinheiro público, porque algum possível candidato poderá vestir a carapuça e se sentir injustiçado!

Mas o que mais impressiona é verificar que a tentativa de intimidação da imprensa, por parte de Jucá Filho, só se faz notar aqui dentro do estado de Roraima. O jornal Folha de S. Paulo, por exemplo, noticiou que sua excelência se utilizou de tráfico de influência para arrancar empréstimo milionário no Basa, e não foi processado.

O Correio Braziliense também noticiou essa ocorrência e detalhou a operação, quando Filho entregou ao Banco da Amazônia sete fazendas inexistentes, como garantia do empréstimo, mas sua excelência deixou o assunto passar em brancas nuvens.

Outra coisa muito interessante é a recusa do senador em processar o engenheiro eletricista Cláudio Roberto Firmino de Oliveira que assegura dispor de documentos comprovando o pagamento duplo de várias obras realizadas no Terminal Rodoviário do Caimbé, Vila Olímpica e nos negócios da coleta de lixo.

Nem Filho, nem sua esposa, a ex-prefeita Teresa Jucá (PPS), se dignaram, ainda, a rebater judicialmente tal denúncia que se reputa das mais graves, em tantas quantas forem as denúncias graves nominadas.

O grande Rui Barbosa (1849-1923), nosso Águia de Haia, que substituiu o escritor Machado de Assis na Presidência da Academia Brasileira de Letras, proferiu certa vez uma oração que se encaixa como agonizante vaticínio, materializado neste Brasil de início de século XXI. Ele disse:

"-De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto."

Pregar seriedade, estimular a virtude, defender princípios, valores e honra, bem como patrocinar a honestidade, não deve ser considerada "propaganda eleitoral negativa antecipada". Trata-se de lutar pelo direito das gerações futuras. Na tentativa de salvar, com a força da palavra e do exemplo, um país que naufraga na lama.

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