- 29 de outubro de 2024
Roraima é mesmo uma das unidades federativas com maior falta de autonomia, começando pela ingerência do Poder Central, que cheira intervenção branca. Um exemplo foi o caso do fechamento da Rádio Difusora Roraima, ocorrido em 26 de março deste ano. A rádio pertence ao governo do Estado.
Dois fiscais da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) foram ao local e informaram que a rádio teria que ser tirada do ar por tempo indeterminado. E a determinação foi cumprida. Mesmo configurando um estupro contra a população roraimense, especialmente a do interior do estado, que tanto se beneficia de seus serviços.
O principal indicativo de que Roraima é um estado virtual - terra de ninguém - reside na questão fundiária. Todos os anos se repete uma avalanche de demarcações de terras, transformadas em reservas intocáveis, seja por parte da Funai, seja pelo Ibama, entre outros órgãos.
Ao instituir tais reservas, o governo federal está se lixando para as necessidades dos não-índios, que precisam desenvolver o estado através da agricultura, da pecuária e de outras atividades agroindustriais.
Sábado passado, o Ibama tentou de tudo para emplacar um "consulta" junto aos moradores do baixo rio Branco. O objetivo era criar mais uma reserva. Por trás disso, interesses de pouca gente. A maioria estrangeira que vê ali um negócio rentável de turismo ecológico. Rentável, só pra eles.
As autoridades ainda não atentaram para o que bem colocou o radialista Márcio Junqueira, que cobriu a tal "consulta" no sábado: aquela região é utilizada pelo narcotráfico, como rota de exportação. E ficará pior sem a presença do governo e sem o devido preparo de condições para que instituições de segurança possam atuar.
E não venha ninguém agora dizer que a Polícia Federal manterá sob controle aquela região. A verdade é que a PF está caindo pelas tabelas, inclusive com ameaça de greve geral de seus agentes e delegados por questões salariais, dado o descaso do Poder Central para com a categoria.
Junqueira constatou um fato lamentável: nenhum representante do povo roraimense estava lá no baixo rio Branco defendendo os interesses do estado. Ou seja, gente de fora, alheia à realidade de Roraima, dita o que é certo e o que é errado e nenhum representante, nenhum político com mandato, se preocupa com isso. Terra de ninguém.
O site da Funai informa que a demarcação da Terra Indígena Trombetas Mapuera, mais uma reserva a se instalar em terras macuxis, teve seu planejamento discutido e detalhado entre os dias 11 e 14 de maio, durante assembléia realizada na aldeia Jatapuzinho, no Município de Caroebe (RR). Nenhum parlamentar roraimense presente no encontro.
A Assembléia Legislativa bem que poderia demonstrar mais interesse em compor uma comissão especial de pelo menos três deputados, para acompanhar a tal consulta no baixo Rio Branco, assim como participar do encontro de Caroebe, no mês passado. Afinal, os deputados foram eleitos para defender, via parlamentar, o patrimônio dos roraimenses. Ou não?
Diz o ditado que "quem tem, cuida". Já está passando da hora dos políticos tomarem conta de suas responsabilidades. De resto, o governo Ottomar Pinto cumpriu direito a tarefa de acompanhar e fiscalizar as intenções toscas do Ibama. A tal consulta deu chabu. Menos mal.