- 29 de outubro de 2024
Analisando friamente, vê-se que a declaração do governador Ottomar Pinto (PSDB) de que o ex-prefeito de Boa Vista Júlio Martins (PFL) estaria tumultuando o processo de composição partidária entre os dois partidos, parece coisa de sujo falando do mal lavado.
Afinal, pela longa trajetória do "velho brigadeiro" como governador de Roraima, prefeito da Capital ou como deputado federal que foi, não lhe recomenda arrotar tantas virtudes em relação ao ex-prefeito.
Vale lembrar que, sendo candidato lançado por Ottomar nas eleições para prefeito de Boa Vista, em 2004, Júlio foi tratado com uma falta de respeito ao extremo. Foi, por Ottomar, relegado ao último plano. Coisa que só se faz com inimigos.
Ora, Ottomar lança Júlio candidato, e quando mais este precisa do seu apoio, o que percebe é a sensação de abandono, no mato sem cachorro. Ao invés de bancar a candidatura até as últimas conseqüências, dando a necessária e esperada força na campanha, já que havia recebido dinheiro para isso, Ottomar escafedeu-se de Boa Vista um dia antes das eleições. Isso é papel de homem de palavra?
Interessante é que Ottomar pretende ser governador do estado pela quarta vez, mas nega o direito de Júlio sê-lo por pelo menos uma. O mais acintoso é que Júlio sequer hoje faz parte de seu partido, o que poderia, em tese, justificar a disputa pessoal entre os dois.
Até as pedras soltas do bairro de Beiral sabem que dificilmente Júlio obterá do PFL aval para a sua candidatura ao governo. Ao meter o bedelho em partido alheio e na vontade alheia, Ottomar ainda pensa que Roraima vive nos tempos em que seus colegas de coturno e o próprio se beneficiavam de indicações para mandarem e desmandarem nos estados da Amazônia.
Não, Ottomar, a ditadura que você direta ou indiretamente participou e serviu acabou faz mais de 20 anos. Tudo bem que queira pela quarta vez ser governador. A democracia que você combateu na época de coronelado lhe permite isso.
Mas, pensando bem, não seria demais que olhasse para a sua administração. É ela que será avaliada. É o eleitor quem dirá se concorda ou não com o seu estilo familiar de governar empregando parentes, aderentes e agregados em ótimos cargos pagos pelo contribuinte.
Será o eleitor quem vai dizer nas urnas se acredita ou não em bravatas como aquela de resolver todos os problemas da saúde pública em 30 dias. Exatamente hoje, 12 de junho, completam-se um ano, seis meses e 25 dias dias de governo e pessoas continuam morrendo à míngua no sistema estadual de saúde (HGR-Pronto Socorro-Hospital Materno Infantil).
A voz corrente é que hoje não existe muita alternativa de voto para o eleitorado roraimense. Mesmo assim, acreditamos que já está passando da hora de Roraima experimentar uma terceira via de verdade. Alguém que venha suplantar o voto de cabresto, prática espúria ainda vigente no lavrado. Chega de tanta desesperança!