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Alckmin: 'Cadê os chefe dos 40 ladrões?'

O PSDB oficializou ontem, na capital mineira, a candidatura do ex-governador paulista Geraldo Alckmin a presidente da República. Na convenção nacional do partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deu o tom das críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chegou a dizer que o tucano era o candidato das "mãos limpas".


Luiz Carlos Azedo
Enviado especial

Belo Horizonte - O PSDB oficializou ontem, na capital mineira, a candidatura do ex-governador paulista Geraldo Alckmin a presidente da República. Na convenção nacional do partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deu o tom das críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chegou a dizer que o tucano era o candidato das "mãos limpas". Logo após, Alckmin apresentou sua proposta de governo e endureceu ainda mais os ataques, num discurso que durou quase uma hora.

"Nunca houve tanta desfaçatez e tanto banditismo em esferas tão altas da República. Mensalão, corrupção nas estatais, dólar na cueca, dólar em caixa de bebida, malas de dinheiro, propinas, compra de deputados, sanguessugas do dinheiro público", disse o candidato tucano. A platéia já estava esvaziada, por causa do encerramento da convenção e do longo discurso, quando Alckmin saiu das teses programáticas para o ataque frontal ao presidente Lula. Por muito pouco não acusou o petista de estar diretamente envolvido nos escândalos de seu governo: "Que tempos são esses, em que um procurador-geral da República denuncia uma quadrilha de 40 criminosos e no meio da lista estão ministros, auxiliares do presidente, amigos do presidente? Que tempos são esses, no Brasil, em que a cada vez que ouvem uma notícia sobre a quadrilha dos 40, os brasileiros pensam automaticamente, em silêncio: e o chefe? Onde está o chefe, o líder dos 40 ladrões?", indagou o tucano.

A cúpula tucana procurou dar uma demonstração de unidade e apoio firme a Alckmin, tentativa de pôr fim às especulações de que os principais líderes do partido estariam fazendo corpo mole na campanha. A viúva do ex-governador Mário Covas, Lila Covas, uma das primeiras oradoras do encontro, deu um puxão de orelhas nos presentes e disse que era a hora de acabar com as críticas e disputas internas. O ex-prefeito José Serra, candidato ao Palácio dos Bandeirantes, que disputou a indicação com Alckmin, fez um discurso protocolar, invocando os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves, mas reiterou seu apoio ao candidato.

Ao contrário do que disse ao começar a leitura de seu discurso - "vou resumir meus objetivos em poucas palavras" -, Alckmin quase estragou a festa tucana ao ler um discurso de 15 páginas. Foi uma espécie de anticlímax. Defendeu o crescimento. Também falou da política externa, reforma tributária, educação e saúde e do problema da segurança, que virou uma dor de cabeça para os tucanos por causa da violência em São Paulo.

Quando o candidato acabou de falar, o governador mineiro Aécio Neves, patrono do evento, puxou o tucano pelo braço e comandou uma apoteótica saída de cena, sob chuva de serpentinas e papel picado. Ambos foram carregados nos ombros por cabos eleitorais e se retiraram do auditório da ExpoMinas pelo meio da platéia. "O discurso foi programático, mas o final foi apoteótico", avaliou Fernando Henrique. O ex-presidente, até então, havia roubado a festa ao revelar sua decepção com Lula e chamá-lo de "fanfarrão" e "vira-casaca".

Reação
O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, respondeu na noite de ontem as críticas dos tucanos: "Por causa do presidente Lula, o Brasil não tem um engavetador-geral da República, como era Geraldo Brindeiro, indicado por Fernando Henrique. Agora, seria bom que Alckmin falasse grosso com o Marcola, do PCC", disse Berzoini. "Eles (os tucanos) não têm autoridade para falar de ninguém. A campanha do PSDB vai ser de baixo nível, porque eles não têm o que dizer."


personagem da notícia
Um político em meio a um dilema

Denise Rothenburg
Da equipe do Correio

Juarez Rodrigues/EM
Alckmin foi carregado por militantes tucanos durante o encontro do PSDB, ontem, em Belo Horizonte: "Onde está o líder dos 40 ladrões?"
 

Em 1984, Fernando Henrique Cardoso se apresentou ao Brasil como um candidato com um pé em cada estado, uma forma sutil de combater aqueles que sempre o acusaram de ser muito paulista. Agora, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin terá o mesmo dilema: isolar referências estaduais e apresentar-se como um nome nacional, capaz de seduzir o eleitorado. E, para traçar esse perfil mais amplo, o candidato vai às raízes da família, que chegou ao Brasil no início do século passado, vinda de Portugal.

A primeira parada dos Alckmin foi em Carinhanha, na Bahia. De lá, um braço dos Alckmin seguiu para Januária, no norte de Minas, e, hoje, tem um primo prefeito em Cruzilha, no sul do estado. Já virou tradição Alckmin dizer todas as vezes que pisa em Minas, que tem um certo parentesco com José Maria Alckmin, que foi ministro da Fazenda de Juscelino Kubitschek. De Minas até Pindamonhangaba, onde nasceu o candidato, foi um pulo. Lá foi eleito vereador, prefeito e conquistou votos para chegar a deputado federal.

Sortudo
Seus aliados o definem como determinado e, acima de tudo, sortudo. Hoje, por exemplo, há quem diga que ele ganhou até mesmo quando perdeu uma eleição. "Das nove que ele disputou só perdeu uma e olha que, se não tivesse perdido, não seria o candidato hoje", conta o deputado Júlio Semeghini, do PSDB paulista, um dos fiéis aliados de Geraldo Alckmin na bancada estadual.

Em 2000, quando era vice-governador de São Paulo, e Mário Covas comandava o estado com vigor, Geraldo Alckmin se licenciou do cargo para concorrer à prefeitura paulistana, numa eleição polarizada entre Paulo Maluf e Marta Suplicy, do PT. De fato, o tucano chegou em terceiro. Mas não fez feio. Ficou fora do segundo turno por uma diferença de 7.691 votos para Maluf. A partir daí, ganhou notoriedade na política paulista. Tanto que, com a morte de Covas, em março de 2001, ele assumiu o governo do estado e terminou reeleito em 2002 com 12 milhões de votos.

Se Alckmin copia no que diz respeito aos familiares espalhados pelo Brasil, ele trata de manter uma certa distância do ex-presidente quando cita personagens famosos do partido. Nesse quesito, ele fica com o ex-governador Mário Covas, lembrado em nove a cada 10 comentários. Há uma outra diferença básica, notada por todos aqueles que tem convivido diariamente com o candidato tucano: Fernando Henrique Cardoso, nas conversas, sempre concordava com os interlocutores e, mas nem sempre fazia o que lhe pediam. Alckmin costuma dizer na hora que não dá, embora fuja de embates. "Não tenho essa qualidade de dizer sempre que sim", confessava ele a amigos numa conversa recente.

Outra característica de Alckmin que salta aos olhos é a sua impaciência para esperar, talvez pelo fato de ser do signo de escorpião - ele nasceu em 7 de novembro de 1952 -, a ansiedade, às vezes, destaca. Num sábado, por volta das 10h da noite, nos tempos em que era governador, ele acabara de voltar de um périplo por vários municípios paulistas, quando o elevador que o conduzia à ala residencial do Palácio dos Bandeirantes parou entre dois andares. Enquanto aguardava a equipe de salvamento, ele sentou-se no chão e falou para o assessor direto. "Me passa os papéis, vamos começar a despachar logo isso", ordenou. Deu tempo de decidir o que fazer com, pelo menos, 20 pedidos, das dezenas que recebera dos prefeitos que tinha visitado naquele dia.

Impaciência
A determinação em não perder tempo, que, para alguns é classificada como impaciência, ficou evidente também na campanha de 2002, quando o candidato à reeleição tinha um compromisso em Presidente Prudente, no interior paulista, pela manhã. Como o avião que o conduziria não tinha como decolar por causa do mau tempo, Alckmin não titubeou. Foi de ônibus. Quase seis horas de viagem. Quando o motorista parou na estrada para o tradicional lanchinho de beira de estrada, alguns passageiros o reconheceram. Os comentários foram os mais variados. "Vejam o que político não faz para ter um voto. O governador viajando de ônibus." Outros diziam: "Olha só como ele é um homem simples, se fosse outro, não estaria aqui".

Sentar no chão do elevador, andar de ônibus e até de táxi por onde vai, tomar cafezinho em padaria para conversar com as pessoas são características que Alckmin incorporou ao seu dia-a-dia. Assim como a leitura de livros de citações e pensamentos curtos. De uns tempos para cá, adotou como lema a frase do Papa João XXIII, "o desenvolvimento é o novo nome da paz". Se as tentativas de se mostrar com gestos simples e a insistência em revelar origens humildes serão suficientes para Alckmin bater o presidente Lula, quem vai dizer é o eleitor.


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