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ELEIÇÕES - O código da Igreja Católica

Na década de 1930, a Igreja Católica desenvolveu um método objetivo para demonstrar suas preferências políticas. Padres eram incentivados pelo movimento que ficou conhecido como Liga Eleitoral Católica (LEC) a divulgar os nomes de candidatos a cargos eletivos que tinham a benção da cúpula da igreja. Eles também preveniam os fiéis sobre os políticos que não se enquadravam no perfil defendido pelo Vaticano.


Hércules Barros
Lilian Tahan

Da equipe do Correio

 
Na década de 1930, a Igreja Católica desenvolveu um método objetivo para demonstrar suas preferências políticas. Padres eram incentivados pelo movimento que ficou conhecido como Liga Eleitoral Católica (LEC) a divulgar os nomes de candidatos a cargos eletivos que tinham a benção da cúpula da igreja. Eles também preveniam os fiéis sobre os políticos que não se enquadravam no perfil defendido pelo Vaticano. Nesse período, tornou-se comum encontrar nas portas de templos listas de postulantes que deveriam ser rejeitados nas eleições para Assembléia Nacional Constituinte de 1933. Os comunistas eram nomes riscados da aprovação cristã. Nas últimas décadas, no entanto, a Igreja Católica tem procurado ser mais discreta, o que não quer dizer que desistiu de eleger seus representantes.

Um questionário elaborado por integrantes da igreja e assinado por dez entidades ligadas a ela é uma prova da tentativa dos líderes religiosos de traçar o perfil ideal do político que deve receber o apoio dos fiéis. O documento de três páginas contém 25 perguntas direcionadas a candidatos a cargos do poder Executivo e Legislativo. Aborda 11 temas polêmicos, sobre os quais a igreja tem posicionamento claro. Aborto, uso de embriões humanos em pesquisas científicas, união gay, adoção de criança por casais homossexuais, método anticoncepcional, eutanásia, programação da TV aberta, crise ética na política são alguns dos assuntos tratados nos questionamentos.

Na maior parte das vezes, a forma com que foram elaboradas as questões deixam transparecer o posicionamento da igreja. Eis alguns exemplos: No seu governo, proporia a modificação da Lei de Biossegurança, número 16510/05, assinada pelo Presidente Lula a 24/03/05, no sentido de eliminar o art. 5, que permite o uso de embriões humanos para pesquisa?, "No seu governo, sancionaria uma Lei que dispõe alteração constitucional para afirmar que a vida se inicia na concepção e para punir severamente práticas que resultem em sofrimento, morte ou mutilação do nascituro (que está prestes a nascer), como quer a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 517/2002? ou ainda "No seu governo sancionaria uma Lei que libera o aborto no Brasil?".

Cobrança
Com as respostas em mãos, os autores do questionário planejam depois cobrar posicionamentos dos eleitos. É o modo legal de fazer com que os políticos sejam honestos e de mostrar para os fiéis quem são as pessoas que se dizem os seus representantes, diz padre Cláudio Antônio Delfino, assessor de assuntos da família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), um dos responsáveis pela elaboração do questionário. Está sendo discutida uma segunda versão do material, reduzida e mais genérica, mas com a mesma essência, descrita no preâmbulo do documento: "As respostas serão objeto de publicação por todos os meios de comunicação possíveis, resultando num compromisso de fidelidade às posições através delas declaradas. Caso não responda ao presente questionário, os eleitores também serão informados".

A Frente Parlamentar em Defesa da Vida, que reúne 70 representantes no Congresso Nacional e tem como lema condenar qualquer tipo de interrupção de gravidez - mesmo em casos de estupro ou de anencéfalos (fetos sem cérebro) -, é parceira da iniciativa da igreja. Os deputados se comprometeram a divulgar o questionário e convidar outros segmentos cristãos, como o dos evangélicos e dos espíritas, a adotar a prática. Depois vamos procurar o Rotary Club, o Lyons e a maçonaria, informa o deputado José Linhares (PP-CE), um dos integrantes da frente.

A expansão do movimento é bem vista pela cúpula da igreja, que se preocupa em não deixar transparecer uma interferência direta. Tanto é assim que, apesar de ter sido elaborada com a participação de integrantes da CNBB, o colegiado de bispos tomou o cuidado de não assinar o questionário. O secretário-geral da CNBB, dom Odilo Scherer, acha legítimo que a igreja conheça o perfil dos políticos que postulam cargos eletivos. Ele ressalta que os questionários são de iniciativa de segmentos da sociedade ligados à igreja e que a participação da CNBB foi a de respaldar o desejo dos fiéis de conhecer melhor os candidatos. Está dentro dos direitos do cristão saber quem são, o que pensam e como usarão o poder aqueles que forem eleitos, defende.

Dom Scherer diz que as sabatinas não são uma inovação da igreja católica ou de seus seguidores. Na opinião do bispo, qualquer setor organizado da sociedade tem os seus interesses e procura vê-los representados nas instâncias políticas. Tenho a convicção de que isso é feito em outros grupos que elegem diferentes tipos de prioridades, como a questão ecológica, a rural ou a trabalhista, e vão atrás de saber se terão os seus interesses defendidos pelos políticos. Isso é legítimo e não pode ser entendido como direcionamento, diz Scherer.

O político desejado

É contra

  • pesquisas com embriões humanos
  • regulamentação da prostituição como profissão
  • casamento de pessoas do mesmo sexo;
  • adoção de crianças por casais homossexuais
  • eutanásia

    É a favor
  • de lei em defesa do feto
  • da proibição do uso de pílula do dia seguinte
  • da proibição do DIU como método anticoncepcional
  • da adaptação da programação da TV brasileira aos valores morais e costumes defendidos pela igreja
  • da moralização da prática parlamentar
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