- 29 de outubro de 2024
Sem traquejos
O puxa-enconlhe da indicação do candidato a vice de Ottomar Pinto ainda vai demorar. O governador já percebeu que o assunto dá ibope e mantém os aliados próximos no sonho de que indiquem o nome. O certo é que depois que Haroldo Amoras passou a ser visto como provável indicado quem ganhou força junto à base foi o deputado Luciano Castro.
O motivo é simples: ninguém, tirando Getúlio Cruz, padrinho de Amoras, quer ver como vice um nome que não seja de um político. Isso porque essa campanha Ottomar vai precisar muito de um vice que tenha ritmo e traquejo políticos. Quem conhece Haroldo Amoras, consegue imaginar ele num arrastão pelo interior, mantendo o corpo-a-corpo com o eleitor, segurando e levantando a galera num comício? Não. São situações complicadas de se imaginar pois o rame-rame político não é a praia de Haroldo Amoras.
Brincando
Agora, quem tem que parar de brincar com o tempo é Ottomar Pinto. Em 1990 Romero Jucá tinha 70% das intenções de votos e perdeu o governo para o brigadeiro. Há exatos quatro anos, em 2002, era Ottomar com 72% e Flamarion Portela, o cearense que veio puxando a cachorrinha, com meros 6%. Flamarion venceu aquela eleição. Em outras palavras, estar na frente disparado não significa estar eleito. Homem que vive fazendo cursos de tudo quanto é pós-graduação, Ottomar parece que ainda não aprendeu esse bêabá. Pode ser reprovado de novo.
Exagero
Porque participou da entrega de donativos do programa Patrulha 94, da Tropical FM, a jornalista Janice Coelho teve a atenção de candidatos a deputado estadual. Um desses chegou a protocolar reclamação na Justiça Eleitoral.
Em tempo, Janice não é candidato a nada.
Injustiçado ou traquina?
Das duas, uma. Ou o senador Romero Jucá é a maior vítima de denúncias mil de corrupção e desvio de dinheiro público, injustas. Ou ele é um grandiosíssimo traquina. O maior que já passou por Roraima. O MPF praticamente já concluiu investigação sobre a "última do Jucá", como muita gente está se referindo à denúncia feita no dia 31 de janeiro passado pelo engenheiro Roberto Cláudio Oliveira ao Ministério Público Federal, dá conta do superfaturamento das obras do Terminal de Ônibus do Caimbé e - pra variar - desvio de equipamentos e material para o estúdio de sua produtora, como cinco fontes de ar condicionado.
Passado
A expressão, na melhor das hipóteses, aponta um certo costume, uma certa falta de surpresa com o que volta e meia sempre se noticia sobre o senador desde 1988. Naquele ano, mesmo antes de ser despachado para Roraima, Jucá já se havia revelado, à frente da Funai (1986-1988), um administrador, digamos, temerário. Sob sua gestão, madeireiros foram autorizados a abater árvores nobres, mogno inclusive, em reservas indígenas.
Propina
Escudado em investigações da Polícia Federal, o procurador da República Juliano Villa-Verde de Carvalho denunciou Jucá. O site www.fontebrasil.com.br recuperou a peça do procurador. É um libelo estarrecedor. Diz o texto: "Cada contrato celebrado entre a Funai e as serrarias envolveu uma propina em dinheiro, que era repartida entre os funcionários da Funai diretamente responsáveis pela operação, cabendo sempre uma parte para o presidente da Funai, destinada ao financiamento de suas pretensões políticas".
Quadrilha
O procurador acusou Jucá de montar uma "quadrilha" na Funai. Segundo a denúncia, Jucá "designou três homens de sua íntima confiança para representá-lo nas negociações criminosas". Diz ainda o texto da denúncia: "50% da propina" cobrada dos madeireiros "era destinada a Romero Jucá", que vislumbrou na exploração madeireira das reservas uma "mina de dinheiro". Romero também foi acusado pelo MPF de formar quadrilha na criação da TV Caburaí.
O inquérito policial de que se serviu o procurador Villa-Verde contém depoimentos de madeireiros e de um sertanista que pertencia aos quadros da Funai. Chama-se Francisco de Assis da Silva. Contou ter recebido de um assessor de Jucá proposta para negociar "com os indígenas" a exploração de madeira. Confessou ter recebido dinheiro "como adiantamento". Forneceu nomes, datas e lugares. Declarou que Jucá participava da "partilha da venda de madeira dos índios". Nega essa veracidade dessa declaração, senador?
Costas largas
À época da denúncia, 1995, Jucá já era senador. O exercício do mandato conferia-lhe foro privilegiado. Só podia ser julgado pelo STF. O processo morreu, porém, antes de chegar ao Supremo. Feneceu nas mãos do então procurador-geral da República Geraldo Brindeiro.
Pernambucano como Jucá, Brindeiro, "el engavetador", mandou o caso Funai aos arquivos, em setembro de 1996, por considerar que não havia nos autos senão "vagas suspeitas". Endossou, de resto, a tese de que, ainda que pudessem ser comprovados, os supostos crimes já haviam sido alcançados pela "prescrição".
Socorro
Brindeiro voltou a socorrer Jucá. Mandou à gaveta também o caso da Fundação Roraima. Esse mesmo que, temperado com revelações apimentadas da Receita Federal, volta e meia, como uma alma penada, persegue o senador que deu as costas para a questão da Raposa serra do Sol.
"Fora ladrão!"
Embora inocente até que as provas em contrário sejam efetivamente analisadas, Jucá não parece pessoa talhada para ser governador, quanto mais líder do governo federal. Já pensou, no meio de um comício aparecer um daqueles bebuns e bradar injustamente "fora ladrão de ar condicionado!"?
No mês passado, o senador Antônio Carlos Magalhães deu uma prévia chamando repetidas vezes Romero de "ladrão", "ladrão de Roraima". Jucá não o processou por isso.
O Vencer e a Tinrol apóiam esta coluna