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Artigo - Escola do crime

Vamos e venhamos, a Câmara hoje não parece ser o estabelecimento mais indicado para se pregar decência e moral. Dos deputados acusados de envolvimento com o escândalo do "mensalão", uma sangria de milhões e milhões de reais, apenas três foram cassados pelos pares. Feito perus, que morrem de véspera, três renunciaram ao mandato. Seriam absolvidos, por certo.


Por Francisco Espiridião

Não é por nada, não, mas alguma coisa está fora de ordem no Congresso Nacional. Em pauta, a crise vivida ontem (25) durante a acareação dos advogados Sérgio Wesley da Cunha e Maria Cristina Rachado, patronos do "poderoso chefão" do crime organizado Marcos Willians Herbas Camacho, o "Marcola", com o homem que vazou informações sigilosas da CPI das Armas, o ex-servidor Artur Vinícius Pilastre Silva.

Ofendidos, os parlamentares exigiram nada menos que a prisão em flagrante de Sérgio Wesley por desacato, crime capitulado no Código Penal. Wesley foi retirado da sala, algemado, pela Polícia do Congresso.

O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) fez uma insinuação considerada pesada pelo depoente:
- O senhor aprende rápido com a malandragem!
- A gente aprende rápido, aqui! A resposta, na bucha.

Vamos e venhamos, a Câmara hoje não parece ser o estabelecimento mais indicado para se pregar decência e moral. Dos deputados acusados de envolvimento com o escândalo do "mensalão", uma sangria de milhões e milhões de reais, apenas três foram cassados pelos pares. Feito perus, que morrem de véspera, três renunciaram ao mandato. Seriam absolvidos, por certo. 

Existe ali um espírito-de-corpo-fechado em torno de ladrões. Há quem não tenha envolvimento com o crime entre os parlamentares, mas uma grande maioria que não roubou, foi conivente, o que dá no mesmo. Interessante que quem escapa de um mal-feito, é pilhado em outro. A bola da vez é escândalo das sanguessugas. Qual será o próximo?

Está difícil de se encontrar nas duas Casas legislativas brasilienses alguém acima de qualquer suspeita. Quando se pensa que baixou as portas, a Pizzaria Brasília ressurge anunciando produção em série.

A última foi a remessa ao Ministério Público Federal dos processos de investigação dos parlamentares envolvidos com o desvio de verbas para a compra de ambulâncias superfaturadas. Isso, depois de instalados no Congresso, para apurar possíveis quebras de decoro parlamentar.

Sobraram explicações, ainda que desprovidas de seriedade. A decisão equivocada levou um deles, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), a declarar que a Câmara fora tomada por "quadrilhas". 

Se Sérgio Wesley não tivesse aprendido nada com os líderes do PCC - a quem, juntamente com a colega Maria Rachado, defende até as últimas conseqüências -, estava no local certo para tomar boas aulas de malandragem.

Se não todos - não somos, afinal, generalizadores -, pelo menos uma grande maioria dos parlamentes no Congresso é, sim, professora de traquinagens diversas. O Congresso hoje é o local mais adequado para se aprender a roubar milhões dos cofres públicos e sair sorrindo. E dançando. Aclamado pelos pares.

Jornalista, e-mail: [email protected].

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