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ARTIGO - Saída pela esquerda

Não há dúvida de que o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos é um sujeito chegado a um folclore. Esquecendo-se da liturgia do cargo, age como se vivesse num divertido salão de valsa. Esse procedimento ficou claro como água em várias ocasiões.


Francisco Espiridião (*)

Não há dúvida de que o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos é um sujeito chegado a um folclore. Esquecendo-se da liturgia do cargo, age como se vivesse num divertido salão de valsa. Esse procedimento ficou claro como água em várias ocasiões.

Lembram o que ele disse sobre o tresloucado ato praticado pelo estudante de Direito da USP Ernest Hellmuth, em agosto de 2003? Hellmuth jogou deliberadamente uma galinha depenada na então prefeita paulistana Marta Suplicy (PT), enquanto discursava numa solenidade na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

O fato, mais que uma simples ofensa, encerra crime de desacato não só contra a pessoa da então prefeita, mas contra todos quantos se encontravam no local. Ocorreu na complacente presença do ministro que, ao invés de tomar providência enérgica, optou por emitir todo o seu destempero, ainda que do tipo jocoso.

- Jogar uma galinha contra uma mulher é uma ofensa igual a jogar um veado contra um homem -, disse Bastos, provocando sentimento de repulsa no presidente do Grupo Gay da Bahia, Luiz Mott. Mott classificou as palavras do ministro como homofóbicas, passíveis de retratação.

Deixando galinhas e veados de lado, depois que o PT perdeu a virgindade ético-moral, o ministro foi pilhado de quatro em pelo menos duas ocasiões. A primeira, quando se descobriu que havia indicado um advogado de sua confiança para defender o indefensável Antônio Palocci (ex-ministro da Fazenda) no episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.

Naquela ocasião, Bastos passou mal. A chapa esquentou tanto, a ponto de muitos analistas acharem que o advogado criminalista havia chegado ao fim da linha no Ministério da Justiça. Davam a degola como certa, em razão da marcação homem a homem impingida pela grande imprensa.

A salvação veio no momento certo. Quando a panela estava para explodir, um "companheiro" de além fronteira, Evo Morales, deu o tom da marcha. Solapou direitos tupiniquins em terras bolivianas. Tudo o que Bastos precisava para sair da marca do pênalti. A imprensa voltou as baterias contra o cocaleiro.

Em seguida, Marcola, autoridade maior na academia do crime organizado, desencadeia guerra urbana jamais vista no estado de São Paulo ou no Brasil. Bastos volta ao foco da mídia. Só que no papel de mocinho. Oferece apoio federal a Cláudio Lembo que, sob as densas sobrancelhas, dispensa, solenemente.

Quando o ministro achava que a tormenta havia passado, eis que tudo se reacende. Bastos é pilhado em novo encontro ignóbil. A revista Veja publicou esta semana que ele havia mantido colóquio reservado com o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity.

Dantas abriu processo na Justiça dos Estados Unidos contra o governo do PT, acusando a quadrilha aboletada no Palácio do Planalto de tentar extorquir o Opportunity em mais de 50 milhões de dólares.

No começo, Bastos quis negar o encontro (ocorrido efetivamente na noite de quarta-feira, 17), mas assentiu em seguida, afirmando não ver qualquer dificuldade em manter encontro com quem quer que seja.

A afirmação de Bastos, aliás, é capaz de deixar qualquer um de queixo caído. Para o governo do PT, a falência de sentimentos altruístas como decência, ética e moral é algo natural. Como se o esvaziamento de tais sentimentos fosse fato desprovido de qualquer conotação pejorativa.

Que é estranho ser pilhado duas vezes seguidas - em menos de dois meses - em situação nada cômoda, lá isso é! Se para um cidadão comum não é nada recomendável, muito menos para um ministro da Justiça, a quem se imputa todo o patrimônio da magistratura secular. Fôssemos um país sério, Bastos já seria ex-ministro.

(*) Jornalista, e-mail: [email protected]

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