- 29 de outubro de 2024
A democracia não é o mais puro e cristalino regime político, mas é o mais transparente de que se tem notícia. É através dela que a sociedade pode manifestar seu descontentamento e se fazer ouvir através das urnas. Em tese.
É com base na democracia que a sociedade pode xingar, reclamar e cobrar ética e trabalho dos governos instituídos e, numa escala menor, dos políticos que, afinal, estão no pedestal que se encontram por pura obra e graça da vontade popular.
Melhoria de vida na cidade e no campo, representada por melhores condições de saúde pública, pelo aperfeiçoamento do sistema educacional, pela abundância de empregos e não subemprego, moradia decente etc., tudo isso, em tese, é fruto de uma escolha sadia nas urnas. Fruto do exercício salutar do direito do voto.
Que bom se assim fosse! Ocorre, na realidade, quase sempre o contrário. Nem sempre o voto que elege é dado conscientemente. A democracia brasileira é um monstrengo. Permite que erros crassos gozem de extrema complacência por parte da Justiça Eleitoral.
A aplicação da pena para o crime de compra de votos (abuso do poder econômico) é algo espantoso, em alguns casos, e inexistente, em outros. Um exemplo de rigor exacerbado foi o do casal Capiberibe - senador e deputada federal amapaense. Perdeu o mandato por haver comprado(?) dois votos, ao preço de 26 reais, 52 reais ao todo.
Para contrapor tanto rigor, são conhecidos casos e casos de comprovadíssima compra de votos que continuam sob a proteção suprema de toneladas de chumbo. A justiça não mexe nem a poder de decreto. Ou, quando mexe, o julgamento extrapola o período do mandato em questão. Vide o casa da Casa Amarela.
É lamentável, mas Pelé tinha razão quando declarou alto e bom som: "O brasileiro não sabe votar". Em outubro próximo, o eleitor roraimense tem como candidatos os mesmos de 16 anos atrás, o que implica na não renovação de quadros. E pior. Há 16 anos tinha-se menos candidatos com carteira de corrupto carimbada.
Hoje está difícil encontrar um que não tenha história de corrupção dormitando nos tribunais. É gente nova, gente velha, tudo com o carimbo de traquinagens nas costas e outras na testa. Não haverá estoque de óleo de peroba para lustrar tanta cara-de-pau.
A eleição de outubro não daria para fazer um filme de faroeste, dado a carência de mocinhos. E o povo vai votar assim mesmo. Os interesses minúsculos quase sempre falam mais alto. É um que recebeu uma telha, outro uma carrada de barro. Há os que ganham um emprego, ainda que temporário - sim, ainda se troca votos por emprego -, enfim, qualquer coisa serve para engodar as desvalidas massas.
Até quando Roraima aceitará todos os insultos e abusos que os políticos oportunistas lhe impingem, fazendo o povo bovinamente manso?
A capacidade de indignação do roraimense parece haver-se exaurido por completo. Diante dos descasos com a saúde pública, com o tratamento espúrio com que foi tratada a questão Raposa Serra do Sol e com a rapinagem do dinheiro público, o eleitorado roraimense parece reagir com a mesma agilidade com que um rebanho de bois confinados reage àquele corredorzinho estreito, mas comprido, que o leva à degola.
Enquanto isso, os donos do poder deitam e rolam, dando ordens e determinando que os eleitores mais pobres votem neles. É gado manso, sem dúvida. Ou pelo menos agindo como tal.