- 29 de outubro de 2024
Falta muito ainda para a conclusão de investigações que vêm sendo realizadas, visando à apuração do envolvimento de deputados federais e senadores no caso da "máfia das ambulâncias". O Congresso Nacional se mostra transformado em delegacia de Polícia.
Na tarde de ontem, quinta-feira (18), o pedido de CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) foi entregue ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Cabe a ele decidir se irá em frente, ou se será arquivado.
O documento conta com 229 assinaturas de deputados federais (58 além das 171 exigidas pelo Regimento) e 31 assinaturas de senadores, quatro a mais das 27 necessárias. O movimento pró-CPMI foi iniciado por três partidos: PPS, PV e PSOL. Nos primeiros movimentos, o PFL logo se mostrou receptivo e ofereceu todo apoio.
Mas o que mais tem impressionado articulistas e observadores da cena política brasileira é a enorme quantidade de parlamentares da chamada bancada evangélica, apanhados com a mão na botija. Pouquíssimos têm resistido à tentação do demônio.
Os outrora expoentes da Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, caíram em desgraça. O "bispo" Rodrigues, que agora se chama simplesmente Carlos Rodrigues, passou de coordenador de assuntos parlamentares a presidiário.
Ele também é acusado de estar por trás do assassinato do deputado estadual Valdeci Paiva de Jesus (PSL-RJ), envolvido numa série de desvios e desmandos. Por falar em Jesus, quando se iniciou a atual Legislatura (tanto no plano estadual quanto no federal), existia determinação muito interessante por parte da Universal.
Os deputados ligados à Igreja deveriam adotar o sobrenome Jesus. Assim, Reginaldo Germano (PP-BA), antes de estourar a Operação Sanguessuga, chamava-se Reginaldo de Jesus. E a Câmara desfilava cheia de "bispos" e de "Jesus" que a cada novo escândalo denunciado iam escondendo o título e o sobrenome que desonravam.
O "bispo" Wanderval passou a ser deputado Wanderval Santos (PL-SP) e transferiu seu título para Roraima, imaginando ser mais fácil a reeleição (é possível que o PL de Roraima, já que cometeu o deslize de trazer sua excelência para cá, tome agora providências no sentido de corrigir o erro, antes que a Justiça o faça).
Wanderval, absolvido pelo plenário da Câmara, depois de flagrado com 150 mil reais das arcas de Marcos Valério, luta agora para provar que não existe irregularidade no fato de ter apresentado emenda em que destina cerca de dois milhões e 700 mil reais para uma fundação no município de Martins, no Rio Grande do Norte.
Sua assessoria diz que o ex-"bispo" foi àquele estado e "viu a necessidade do povo". Mas não transferiu o título para lá, preferiu Roraima. Já a Polícia Federal está em seu encalço, por entender que sua excelência é um dos grandes implicados na Máfia dos Sanguessugas.
Alguns deputados tiveram seus nomes pronunciados fora de contexto. Na hora de se falar nos principais envolvidos, alguns confundiram alhos com bugalhos e buscaram tirar proveito, embora as investigações estejam apenas no início.
Em Roraima, a Convenção Estadual da Assembléia de Deus emitiu "moção de apoio", indignada por conta de investigações em torno do pastor Frankembergen, a quem dizem ter elegido "como homem de Deus". O mais aconselhável seria esperar o resultado do que a Polícia Federal vem levantando.
O que se sabe é que o Congresso Nacional está desmontado e desmoralizado. E que os proclamados representantes do Criador só têm atrapalhado e se comprometido.
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