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Uma coisa encobre a outra - Márcio Accioly

Por não concordar com o esquema, comandado por Zé Dirceu (Casa Civil), o senador começou a ser fritado e foi afastado para a entrada de Romero Jucá. A revista diz que "um dia depois de conversar com Amir Lando, o procurador-geral encaminhou ao Supremo Tribunal Federal um pedido formal para que siga adiante a investigação sobre o mensalão".


Com o clima de guerra civil em São Paulo, onde quase duas centenas de mortes já vão sendo contabilizadas entre policiais, criminosos e civis que nada têm a ver com o assunto, quase passou despercebida matéria veiculada pela revista IstoÉ do último final de semana. O tema é dos mais explosivos e expõe bandidagem dos engravatados.
Assinada por Rudolfo Lago e Rodrigo Rangel, a reportagem conta que, "no dia 3 de maio, o ex-ministro da Previdência Social, senador Amir Lando (PMDB-RO) foi espontaneamente à sala do procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza" e prestou "depoimento informal, mas bombástico".
O senador revelou tintim por tintim o que acontecia num esquema arquitetado pelo publicitário Marcos Valério, "para irrigar com um bilhão de reais os projetos de poder do PT". É a tal história do "crédito consignado", privilegiando o BMG, muito ligado ao PT e aos 40 ladrões denunciados pelo procurador Antônio de Souza.
De acordo com a revista, Lando contou que "os acertos com o BMG para operar o crédito consignado são o elo de uma conexão maior que transformava a Previdência Social em um festival de brechas e irregularidades".
Tal conexão desviava, "segundo cálculos de uma investigação que pediu à Agência Brasileira de Inteligência (Abin), em 2004", 30 bilhões de reais por ano! Pois bem: com desvio dessa natureza, nossas "autoridades" fazem cara de indignadas quando criminosos comuns se rebelam, matam e mutilam.
Dão os piores exemplos, desmoralizam as instituições, saqueiam os cofres públicos e fazem pose de honestos, condenando larápios comuns.
Por não concordar com o esquema, comandado por Zé Dirceu (Casa Civil), o senador começou a ser fritado e foi afastado. A revista diz que "um dia depois de conversar com Amir Lando, o procurador-geral encaminhou ao Supremo Tribunal Federal um pedido formal para que siga adiante a investigação sobre o mensalão".
No pedido, "estão previstos os depoimentos formais de Lando e do ex-presidente do INSS Carlos Bezerra", denunciado num montão de irregularidades. O senador rondoniense, ao saber que sua convocação "acabaria acontecendo", antecipou-se e demonstrou disposição de colaborar. Sabe que o caldo pode engrossar.
Na divisão do butim administrativo entre os bucaneiros da vida pública brasileira, a Previdência (pobre dela) estava destinada ao PMDB. Depois de muita negociação (ou negociata?), Amir Lando foi afastado no dia 22 de março de 2005 e na mesma data assumiu o senador Romero Jucá Filho (PMDB-RR).
Filho declarou de imediato que o negócio dele seria "moralizar", vejam só! E que iria cobrar dívidas monstruosas dos que viviam fugindo à responsabilidade. Acontece que, ao circular entre o proscênio e a ribalta, teve de enfrentar foco pesado de denúncias irrespondíveis. E constatou-se prática distanciada do discurso.
Veio à tona um empréstimo milionário que sua excelência arrancou do Basa - Banco da Amazônia -, entregando como garantia sete fazendas fantasmas no estado do Amazonas. No levantamento acerca de suas ações pregressas, nada sobrou de positivo. Como decorrência, o senador foi defenestrado de maneira inapelável.
Ficou tão por baixo que, recentemente, seu colega de Parlamento, ACM (PFL-BA) chamou-o de ladrão em plena sessão. Tal é o nível da vida política nacional, com a sociedade se escravizando para sustentar verdadeira súcia de malfeitores.
Não se sabe que providências serão tomadas, porque a cada dia aparece um novo escândalo. Mas o clima geral está ficando insuportável e os receios são fundamentados.

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