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EDITORIAL - Atavismo pernóstico

Difícil, no entanto, acreditar em independência político-administrativa haja vista o prefeito Iradilson Sampaio continuar governando com toda a equipe de Teresa Jucá. Agindo assim, Iradilson alardeia que não tem vontade própria, que não passa de um preposto colocado alí para tão simplesmente dizer amém aos projetos políticos de Teresa Jucá.


Até que enfim. A NAB Engenharia, empresa do irmão gêmeo do secretário de Obras da Prefeitura Municipal de Boa Vista Nélio Afonso Borges será investigada pelo Tribunal de Contas de União (TCU), através de auditoria. Diga-se de passagem, o secretário, referendado pelo prefeito Iradilson Sampaio, é herança de Teresa Jucá.

Até aí, nenhuma novidade. Improbidade administrativa deve ser mesmo investigada até às últimas conseqüências. E não só investigada, mas punida em sua essência, haja vista tratar-se de "fornicação" escandalosa com os cofres públicos.

O inusitado, neste caso, ficou por conta de Iradilson, ao declarar em entrevista à Folha de Boa Vista, no sábado, que facilitará a investigação. Em outras palavras, disse o prefeito que não irá criar dificuldades para que o TCU chegue à verdade nos possíveis desmandos da gestão da Secretaria Municipal de Obras ainda sob o comando da prefeita demissionária.

Que o dono da NAB Engenharia ganhou dinheiro às custas da Prefeitura, isso é claro. Afinal, sua empresa não dispunha de equipamentos - veículos, caminhões, tratores - para executar as obras conveniadas, usando, portanto, os pertencentes à Prefeitura. Isso, sem contar que as obras foram sempre orçadas com valores acima dos de mercado.

Mas, voltando à declaração de Iradilson, poderia ser diferente? Será que lhe passou pela cabeça a possibilidade de, como ocupante do cargo maior no Município de Boa Vista, criar entraves para a apuração de possíveis desmandos? Será que Iradilson acredita mesmo que criar dificuldades na apuração poderia ser uma de suas atribuições como herdeiro do cargo, agindo como preposto de Teresa?

Note-se que ele destacou sua decisão de não criar dificuldades como se fosse uma virtude especial. Este Fontebrasil entende que nesse particular, nada de virtude existe e sim dever e obrigação inalienáveis.

Este site enfatiza, ainda, que Iradilson, para ser mais transparente em sua boa-vontade à frente da Prefeitura, deveria, sim, afastar o secretário de Obras irmão gêmeo do maior construtor do município. Conivência pode ser enquadrada como crime, é bom lembrar.

Para quem tem memória um pouco mais aguçada, fica fácil lembrar que, quando na oposição, o então deputado estadual Iradilson Sampaio era useiro e vezeiro em criticar o governo do estado por beneficiar empresários parentes de autoridades.

O caso em questão não diz respeito a sua pessoa, mas é como se fosse. Ao manter o secretário municipal de Obras no cargo, sob a suspeita de beneficiar um parente, Iradilson acata o imbróglio herdado de Teresa e incorre na mesma irregularidade da governante que lhe passou a missão de apoiá-la. Acoberta um atavismo pernóstico que, incondicionalmente, deve ser banido da vida pública.

Ao permitir a realização de devassa em possíveis irregularidades na prefeitura, Iradilson estará administrando com probidade, dentro daquilo que se espera de qualquer autoridade constituída. Isso não é nenhum mérito, nem pode ser visto como virtude e sim como dever e obrigação.

Difícil, no entanto, acreditar nisso, haja vista o atual prefeito continuar administrando com toda a equipe remanescente de Teresa Jucá. Agindo assim, Iradilson alardeia que não tem vontade própria. Não passa de um preposto de Teresa, um capataz oficial da candidata ao Senado.

É possível que Iradilson esteja agindo assim em troca de um reconhecimento futuro do marido de Teresa, Romero Jucá, que poderá vir através de apoio em emendas parlamentares. O pior nesse novelo de incertezas é o desgaste com a opinião pública, que não deixa de pressentir no processo um cheiro de cumplicidade e subserviência na gerência da causa pública. Coisa triste.

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