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Crônica do Aroldo - PROFISSÃO: MACACO

Raros são os países que não têm um destes nordestinos lutando pela vida. Já ouvi sobre cearense preparando sushis e sashimis no Japão, desenhando moda na Itália, dando aulas de inglês na Inglaterra, aplicando massagens na Tailândia, atuando como faquir na Índia (isso não surpreende, grande parte dos nordestinos passa meses "faquirando", sem comer, no agreste), recluso em monastérios no Tibete, cozinhando na França, surfando no Havaí...


 

O brasileiro é empreendedor por natureza. O cearense, batalhador, criativo, determinado, corajoso e bem humorado, dá-nos exemplos de empreendedorismo. Raros são os países que não têm um destes nordestinos lutando pela vida. Já ouvi sobre cearense preparando sushis e sashimis no Japão, desenhando moda na Itália, dando aulas de inglês na Inglaterra, aplicando massagens na Tailândia, atuando como faquir na Índia (isso não surpreende, grande parte dos nordestinos passa meses "faquirando", sem comer, no agreste), recluso em monastérios no Tibete, cozinhando na França, surfando no Havaí, espionando para o serviço secreto russo, cantando boleros no México, pilotando balças entre Cuba e Miami, construindo iglus no Polo Norte, dando consultoria para a Federação do Comércio na Síria, servindo de "test-drive"  de vodu no Haiti, dançando tangos na Argentina, aconselhando o alto clero no Vaticano, etc. Até ouvi falar de um rapazinho do Crato que se inscreveu num programa de homens-bomba no Iraque; este só não levou adiante seu intento por ter medo do barulho de explosões.

Meu pai, cearense de Farias Brito, foi um exemplo de batalha, coragem, determinação, criatividade, honestidade e bom humor: ele, em busca de dias melhores para si e para a nossa família, veio parar em Roraima (Isso quando Roraima ainda nem existia!). Nas terras de Macunaima, Zepinheiro construiu sua vida e dela desfrutou até os seus últimos dias.

Onofre, cearense de Riacho do Sangue, depois de muito trabalhar e economizar, abriu um hotel de terceira categoria próximo à Rodoviária. Um dia, eu e Onofre, tivemos o seguinte diálogo:

- Onofre, como diabos tu vieste parar em Boa Vista?

- Ah, é uma longa história... Não agüentava mais a miséria em que nós vivíamos no Ceará... Ouvi falar de conterrâneos que se deram bem no Norte, e resolvi seguir-lhes os passos... Larguei tudo e segui no rumo do pau da venta sem nenhum planejamento: onde fosse bom, eu ficaria... Rodei pelo Maranhão, zanzei pelo Pará, sofri pelo Amapá, emborrachei no Acre, penei em Rondônia e, de repente, estava em Manaus... Trabalhei por três anos no Amazonas. Economizei e vim pra Boa Vista. Com um trocado no bolso decidi estabelecer este hotelzinho.

- Sim, mas que tipo de emprego tu arranjaste em Manaus que te rendeu dinheiro pra fazer o pé de meia?

- Arranjei emprego de macaco numa agência de turismo...

- Macaco...? Dá pra explicar este trabalho?

- Ah, era um trabalho muito bom...: simples, tranqüilo, seguro, rendia um bom dinheiro e, além de tudo, nos davam alojamento e alimentação... Era o seguinte: eu e mais uns oito colegas ficávamos numa pousada no meio da selva. De manhã cedo, vestíamos fantasias de macacos e uma voadeira nos deixava em pontos estratégicos ao longo do rio Ariaú... Mais tarde, um barco cheio de gringos equipados com máquinas fotográficas e filmadoras era levado para um passeio pelas maravilhas da Floresta Amazônica. Ao aproximar-se das ilhotas onde nós, os "macacos", tínhamos sido deixados, o barco apitava e tudo o que nós tínhamos que fazer era subir em árvores e fazer macaquices. Assim a gringaiada filmava e fotografava os macacos mais parrudos da região...   Sabe por que o apelido da minha esposa é Chita...? Ela macaqueou durante muito tempo nas Anavilhanas...

 

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