- 29 de outubro de 2024
Brasília - O julgamento do jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves que assassinou com dois tiros - o primeiro pelas costas e o segundo na cabeça quando ela já estava no chão - a também jornalista Sandra Gomide, é a crônica de um crime passional tornada realidade por gente que se julga culta, interada e ética, mas que na verdade, são desequilibradas diante de contrariedades e irritação profundas.
O primeiro passo para se cometer um crime desses é a agressão covarde contra a parceira. Levantamento feito pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres aponta que, de cada dez casos de violência do parceiro contra a mulher, sete são repetidas, ou seja, acontece de novo.
O estudo revela também que, de cada cinco mulheres mortas em crimes passionais, quatro sofreram agressões anteriores. E mais: oito em cada dez homens com registros na Delegacia da Mulher têm registros de violência contra ex-parceiras. Bateu na passada, bate na atual e baterá na futura, não é?
O perfil do agressor, independente de faixas sociais e culturais, é de quem se considera o centro do mundo, que todas as atenções, deveres e obrigações da mulher têm que girar ao seu redor. Pimenta Neves tinha essas características. Era arrogante, pedante, o melhor de todos. Não suportou o desleixo de Sandra Gomide em viver sem ele.
O crime de Pimenta Neves é de uma repugnância só menor que o argumento de sua defesa: matou por amor.
Como se pode matar alguém por amor?
Como se pode agredir para fazer o bem à vítima?
Como se pode concertar uma relação com ameaças, tapas e pontapés?
Como alguém pode ser culto, interado e ético e estar no limiar de, ao se ver contrariado, se transformar num agressor ou em alguém que mata por amor?
O pior é que, espalhados por aí, há muitos pimentas neves posando de cultos, interados e éticos.