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Cultos, interados e éticos - Edersen Lima

O crime de Pimenta Neves é de uma repugnância só menor que o argumento de sua defesa: matou por amor. Como se pode matar alguém por amor? Como se pode agredir para fazer o bem à vítima? Como se pode concertar uma relação com ameaças, tapas e pontapés? Como alguém pode ser culto, interado e ético e estar no limiar de, ao se ver contrariado, se transformar num agressor ou em alguém que mata por amor? O pior é que, espalhados por aí, há muitos pimentas neves posando de cultos, interados e éticos.


Brasília - O julgamento do jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves que assassinou com dois tiros - o primeiro pelas costas e o segundo na cabeça quando ela já estava no chão - a também jornalista Sandra Gomide, é a crônica de um crime passional tornada realidade por gente que se julga culta, interada e ética, mas que na verdade, são desequilibradas diante de contrariedades e irritação profundas.

O primeiro passo para se cometer um crime desses é a agressão covarde contra a parceira. Levantamento feito pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres aponta que, de cada dez casos de violência do parceiro contra a mulher, sete são repetidas, ou seja, acontece de novo.

O estudo revela também que, de cada cinco mulheres mortas em crimes passionais, quatro sofreram agressões anteriores. E mais: oito em cada dez homens com registros na Delegacia da Mulher têm registros de violência contra ex-parceiras. Bateu na passada, bate na atual e baterá na futura, não é?

O perfil do agressor, independente de faixas sociais e culturais, é de quem se considera o centro do mundo, que todas as atenções, deveres e obrigações da mulher têm que girar ao seu redor. Pimenta Neves tinha essas características. Era arrogante, pedante, o melhor de todos. Não suportou o desleixo de Sandra Gomide em viver sem ele.

O crime de Pimenta Neves é de uma repugnância só menor que o argumento de sua defesa: matou por amor.
Como se pode matar alguém por amor?
Como se pode agredir para fazer o bem à vítima?
Como se pode concertar uma relação com ameaças, tapas e pontapés?
Como alguém pode ser culto, interado e ético e estar no limiar de, ao se ver contrariado, se transformar num agressor ou em alguém que mata por amor?

O pior é que, espalhados por aí, há muitos pimentas neves posando de cultos, interados e éticos.

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