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Greve de fome compromete candidatura própria do PMDB

Em dois dias de protesto, o ex-governador Anthony Garotinho perdeu 1,3kg. Mas não é só o peso do peemedebista que evapora com a inusitada greve de fome. A candidatura própria do PMDB à Presidência da República também definha. Integrantes da ala oposicionista, que travavam uma batalha interna para impedir alianças do partido com PT ou PSDB, avaliam que a atitude de Garotinho compromete quase irremediavelmente sua tentativa de ser o candidato a presidente da legenda.



Helayne Boaventura
Do Correio Braziliense

Em dois dias de protesto, o ex-governador Anthony Garotinho perdeu 1,3kg. Mas não é só o peso do peemedebista que evapora com a inusitada greve de fome. A candidatura própria do PMDB à Presidência da República também definha. Integrantes da ala oposicionista, que travavam uma batalha interna para impedir alianças do partido com PT ou PSDB, avaliam que a atitude de Garotinho compromete quase irremediavelmente sua tentativa de ser o candidato a presidente da legenda. Sem o ex-governador no páreo, são mínimas as chances de o partido emplacar um candidato. O cenário animou a ala governista, que nesta terça-feira reuniu assinaturas suficientes para apresentar o pedido de antecipação da convenção partidária e tentar enterrar de vez as pretensões da candidatura própria.

O líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), apresentou as assinaturas de 12 presidentes de diretórios regionais com o pedido de antecipação da convenção partidária, marcada para junho, que decidirá, finalmente, se a legenda terá candidato. Até o presidente do partido, Michel Temer (SP), que defende a candidatura própria, aceita a antecipação, e marcou para esta quinta-feira reunião da Executiva Nacional para preparar a pré-convenção no dia 13. "Não seria uma coisa desarrazoada. Seria uma boa atitude", analisou Temer, com a justificativa de que os líderes regionais aguardam com ansiedade uma decisão nacional para formalizar as alianças nos estados.

Se aprovada, a antecipação da convenção é um prenúncio da derrota de Garotinho no partido. Contrário à medida, ele avisou que recorreria à Justiça para impedir a realização do encontro. Ontem, seu fiel escudeiro, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi cobrar de Temer a realização da reunião da Executiva para discutir a necessidade de antecipação. E avisou que o grupo ligado ao ex-governador não comparecerá à pré-convenção, se o evento realmente for no dia 13. "Não vai dar quorum, porque nós não vamos comparecer, não vamos participar", ameaçou.

Mas a conclusão de que a candidatura própria caminha para um final melancólico faz parte de uma lógica política ainda mais ampla. Avaliação unânime entre os peemedebistas é a de que Garotinho ridicularizou-se com a greve de fome por não ter saída na cruzada para se tornar o candidato do partido. As denúncias teriam inviabilizado seu nome. Nenhum peemedebista acredita na hipótese, difundida apenas por fiéis aliados do ex-governador, de reversão do cenário político atual com uma comoção provocada pelo estado de saúde do pré-candidato. "Nos primeiros dias (da greve) é assim, há críticas, mas quando o estado dele se debilitar, e ele parar no hospital, vamos ver como as coisas ficam", raciocina Cunha. Garotinho iniciou uma greve de fome no domingo em protesto contra o que chama de "perseguição" da mídia, pela publicação de denúncias contra ele, porém, aposta nisso.

Sem Garotinho na disputa, o único nome com chances de tornar-se candidato seria o ex-presidente da República Itamar Franco, que também diz ter a intenção de participar da disputa interna. "Itamar se animou", jura Temer. O problema é que Itamar não tem qualquer chance de viabilizar uma candidatura, confessam os próprios aliados do ex-presidente. Eles dizem que Garotinho conseguiu montar uma importante base de apoio no partido às custas da promessa de montar palanques de campanha para os candidatos do PMDB nos estados. Itamar, dizem, não tem qualquer possibilidade de repetir a promessa.

Em vez de candidatura presidencial, articuladores de Itamar trabalham para que ele seja o candidato do PMDB ao Senado, com o apoio do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). O principal obstáculo a ser superado na empreitada é vencer a resistência do ex-governador mineiro Newton Cardoso, que faz forte oposição a Itamar no partido. Sem um nome forte, será quase impossível aos partidários da candidatura própria emplacar a tese. A única alternativa será esvaziar a convenção partidária para tentar impedir que haja quórum suficiente para tomar uma decisão.


IRONIAS E GALHOFAS
A candidatura a presidente pode não vingar, o PMDB pode não se sensibilizar, mas o sacrifício gastronômico do ex-governador Anthony Garotinho não será em vão ao menos num aspecto: numa cidade onde modismos são comuns no verão, ele conseguiu consagrar-se como a piada do outono. Nas ruas cariocas e na internet, multiplicam-se opiniões cheias de humor sobre a greve de fome do peemedebista. A criatividade dos moradores do Rio - onde está a maioria dos eleitores de Garotinho - tem sido a mais ativa, desde que o protesto começou. Encontrou-se até utilidade prática para as gaiatices. Como fez a professora de hidroginástica no Olympico Clube, em Copacabana. Ela usou uma rima cheia de graça para renovar o mantra de incentivo às alunas: "Vamos malhar tudo certinho/ Se não vou botar vocês com o Garotinho". Na internet, o orkut, claro, não ficou atrás. A campeã da galhofa é a comunidade "Greve de fome?? Vai morrer!!!", que nesta terça-feira, às 20h, contava com 1.372 membros. O site Kibe Loco produziu uma montagem com o rosto do grevista e o corpo de um faquir, na campanha "Desaparece, Garotinho".

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