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A "novilíngua" consagrada - Francisco Espiridião

O PSDB teve o garfo e faca nas mãos para apear de vez Lula da Presidência. Mas preferiu agir de forma cruel. Decidiu que o enlameado presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria sangrar até outubro, quando, então, seria derrotado com todas as desonras possíveis nas urnas. Erraram no diagnóstico Um erro de cálculo que sugere das duas uma, ingenuidade pura ou incompetência na arte da política.


O PSDB teve o garfo e faca nas mãos para apear de vez Lula da Presidência. Mas preferiu agir de forma cruel. Decidiu que o enlameado presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria sangrar até outubro, quando, então, seria derrotado com todas as desonras possíveis nas urnas. Erraram no diagnóstico

Um erro de cálculo que sugere das duas uma, ingenuidade pura ou incompetência na arte da política. Os próceres da oposição - FHC, Tasso Jereissati e Aécio Neves - esqueceram que, mesmo ferido, Lula estava com a máquina administrativa nas mãos. A "Viúva", neste caso, lhe era favorável em todos os aspectos.

Ao entender a burrada que fez, o PSDB perdeu as estribeiras. Internamente, não foi respeitado um dos princípios elementares: o candidato da vez. Tudo indicava que a vez era do ex-prefeito José Serra. O ex-governador Geraldo Alkmin decidiu atropelar o protocolo. E a cúpula, barata tonta, não soube puxar as rédeas do processo.

Resultado: Alkmin, o conhecido "Picolé de Chuchu", não vai para frente nem para trás. Continua patinando, sem conseguir empolgar o eleitorado, que a cada dia mais se declara a favor de Lula.

O "canto da sereia" soa como música aos ouvidos da grande massa de eleitores, aquela que, como o presidente, não vê nada, não sabe de nada. Muito pelo contrário, sente no Bolsa-Família um agente redentor da porca miséria.

Impressionante, a verdade está estampada em todos os sentidos, aos olhos de qualquer um, dos mais desavisados aos mais bem informados. Basta querer ver. As mentiras, da mesma forma, por terem pernas curtas, não vão longe. Senão, vejamos as lambanças:
1. O Bolsa-Família distribuiu ano passado R$ 6 bilhões, uma média mensal de R$ 65 reais a 8 milhões de famílias. Neste ano de 2006, deve chegar a R$ 8 bilhões.
Aí, há pelo menos duas considerações interessantes. Primeiro, Lula não inovou nada. Pegou os benefícios assistencialistas criados por FHC e fundiu-os num e o rebatizou. Antes, divididos em várias rubricas - vale-gás, uma delas -, hoje, todos juntos, chamam-se Bolsa-Família.
Segundo: o Bolsa-Família, a vedete, o carro chefe da campanha de Lula, é fichinha diante do que fez o governo da Ditadura (Arena - Aliança Renovadora Nacional - à frente) ao criar o Funrural.
O Funrural paga hoje um salário mínimo a milhões de beneficiários - aposentados rurais, idosos e deficientes físicos e mentais, entre outros. Segundo o Ministério da Previdência, em 2002 já representava R$ 13 bilhões - bem mais que os R$ 6 bilhões pagos pelo Bolsa-Família no ano passado.
Bom lembrar que o defenestrado presidente Collor também teve sua participação nesse quinhão. Os militares criaram o Funrural na década de 70, pagando apenas meio salário mínimo. Foi Collor quem o reajustou para um salário inteiro.

2. O "espetáculo do crescimento". Lula disse que o Brasil viveria tão logo assumisse a Presidência o "grande espetáculo do crescimento". O que se viu até aqui foi o crescimento do setor financeiro. Só os banqueiros foram beneficiados. E como! O PIB permanece praticamente estagnado.

3. Auto-suficiência em Petróleo, outra lambança do governo Lula. O Brasil persegue esse estágio desde que a Petrobrás foi criada, em 1953, pelo então presidente Getúlio Vargas, sob o ufanismo da hora: "O Petróleo é Nosso".
A revista VEJA (edição de 26 de abril) explica que, infelizmente, não há o que se comemorar hoje. A auto-suficiência ocorre agora, não por conta de dinâmica performance da Petrobrás, mas porque o país está mergulhado no fundo do poço na escalada da falta de crescimento do PIB, processo que se desenvolve nos últimos 30 anos.
Ou seja, a auto-suficiência se deu não por produzirmos mais petróleo do que necessitamos, e sim, por estarmos necessitando de menos petróleo por conta da nossa ineficiência em crescermos. Aliás, auto-suficiência de araque. O preço do litro gasolina continua aumentando para o consumidor.

4. Criação de 10 milhões de novos empregos em quatro anos. O programa Primeiro Emprego, assim como o Fome Zero, foi verdadeiro fiasco. Graças à maré alta que impera nas economias do Primeiro-Mundo, o Brasil não naufragou de vez. Até agora não se conseguiu passar de 4 milhões de novos empregos.

Muitos outros pontos negativos do governo Lula poderiam ser abordados, mas o espaço não permite. Encerremos, então, com o mais cruel de todos: o governo do PT tentou aparelhar o estado para se manter no poder por 20 anos ou mais (a Ditadura Militar ficou por 20 anos).

Para tanto, não economizou na mentira, na prática da covardia, nos golpes baixos, na corrupção deslavada, na falta de compostura de seus homens tidos até então como lídimos representantes da ética. O duro punhal da impunidade foi cravado no peito de cada brasileiro.

Por tudo isso, Lula não merece um segundo voto. O comentarista político da Rede Globo, Arnaldo Jabor, definiu bem o estado de ânimo: "O Lula reeleito será a prova de que os delitos compensaram. A mentira será verdade e a 'novilíngua' estará consagrada".

(*) Jornalista, autor de "Até Quando - Estripulias de um governo equivocado"; e-mail: [email protected]: tania gadelha

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